30 de Maio: Dia de Luta Pela Maior Participação Política das Trabalhadoras Rurais

Diretora do Senge-PR conta a história da sindicalista Margarida Maria Alves

Comunicação
30.MAIO.2023

Por Maria Wanda de Alencar Ramos*

O dia 30 de maio celebra o Dia de Luta pela Maior Participação Política das Trabalhadoras Rurais, data esta dedicada a manifestar a importância da atuação dessas mulheres, que são fundamentais à economia, à cultura e à diversidade. É dia de celebrar conquistas e ponderar os muitos desafios a serem superados.

Neste dia, nós, do Coletivo de Mulheres do Senge-PR, celebraremos contando um pouco de história de uma mulher camponesa que atuou na política e é exemplo de vida e inspiração para muitas outras mulheres, não somente do campo, mas as trabalhadoras em geral.

Esta mulher se chama Margarida Maria Alves: mulher, pobre, camponesa, negra e nordestina. A paraibana de Alagoa Grande, nascida no dia 5 de agosto de 1933, foi uma das primeiras mulheres a exercer um cargo de direção sindical no país, assumindo o cargo de presidenta do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande-PB, destacando-se como grande defensora dos direitos humanos no Brasil. Seu legado e sua história de luta inspiraram a Marcha das Margaridas, criada em 2000. Esta marcha é considerada a maior ação conjunta de mulheres trabalhadoras da América Latina.

Caçula de nove irmãos, originária da zona rural do município, onde viveu até os 22 anos de idade, quando foi expulsa da terra com toda a família por grandes latifundiários, tendo de ir morar na periferia de Alagoa Grande. Desta forma, Margarida carregava consigo a questão agrária como bandeira a ser reivindicada, de maneira a combater as injustiças sociais. Nesta realidade não conseguiu estudar, foi completar o quarto ano do Ensino Fundamental quando já era adulta. Porém, a pouca escolaridade não a impediu de empenhar-se para que outros/as trabalhadoras/as tivessem a oportunidade de estudar. Durante sua gestão no sindicato criou um programa de alfabetização para adultos inspirado nos modelos do educador Paulo Freire, objetivando o despertar da consciência crítica dos/as trabalhadores/as rurais analfabetos/as.

Sua atuação no sindicato entrou em choque com os interesses do proprietário da maior usina de açúcar local, de alguns senhores de engenho, remanescentes do período em que os engenhos dominavam a economia açucareira local e estadual e de fazendeiros não ligados à lavoura da cana, resultando no assassinato da sindicalista. Ela já havia denunciado as ameaças de morte que vinha recebendo, expressando a frase: Da luta eu não fujo. É melhor morrer na luta do que morrer de fome.

Contudo, a resistência de Margarida não superou a tirania dos latifundiários. Ela foi covarde e barbaramente assassinada pelos senhores de terras do Brejo paraibano, em 12 de agosto de 1983, aos 50 anos, em sua casa, na frente do filho e do marido. O crime segue impune, mas seu legado permanece vivo.

Margarida Alves é o retrato de muitas mulheres pobres, pretas e discriminadas do país, tornando-se símbolo de resistência e luta pela reforma agrária, pelo fim da violência no campo, e o fim da exploração das trabalhadoras e trabalhadores rurais. Neste dia 30 de maio, Dia de Luta pela Maior Participação Política das Trabalhadoras Rurais, contemplar a questão de gênero na formação política e teórica, não apenas pelo entendimento de que a mulher está intimamente ligada à história da terra, mas na expectativa de que as lutas agrárias e das mulheres se complementam. É reacender a história desta, e de tantas outras mulheres que constituíram suas vidas na luta por um mundo melhor, mais justo e igualitário.

Portanto, a luta de Margarida germina em cada uma de nós mulheres do campo, e reforçamos que Margarida Alves vive em cada uma de nós mulheres que lutamos pela participação política, pelo fim da violência contra a mulher, e pelo direito de participação plena de cada mulher em todos os espaços que atuemos.

Viva a participação política das mulheres trabalhadoras do campo e da cidade.

Margarida presente!

* Maria Wanda de Alencar Ramos é Engenheira Agrônoma, graduada pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), com especialização em Gestão das Organizações Públicas, Brasília. Mestre e Doutora em Meio Ambiente e Desenvolvimento pela UFPR. Servidora do Município de Guaratuba cedida para o Instituto Água e Terra – IAT/PR. Atua com as questões socioambientais, fundamentalmente relativas à agricultura familiar-agroecológica.

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