A contribuição da engenharia em tempos de pandemia

Quando atravessarmos o túnel até o fim desta pandemia, a engenharia e os engenheiros terão feito a sua parte

Comunicação
29.JUN.2020

Por Jose Antonio de Sousa Neto, professor da Escola de Engenharia de Minas Gerais (EMGE)

Às vezes, em momentos desafiadores, não nos damos conta de como foi grande o desenvolvimento humano nos últimos séculos e principalmente nas últimas décadas. Menos ainda em períodos da chamada normalidade. Temos como sociedade e civilização um longo caminho a percorrer. Mas deveríamos, de um modo geral, nutrir uma profunda gratidão pelo que já alcançamos.

Vale aqui uma breve reflexão trazendo uma questão simples que coloquei recentemente aos meus alunos. O que, por exemplo, a engenharia civil tem a ver com o setor agropecuário? Quando paramos para pensar vamos ver que tem muita coisa. E nem estou me referindo à engenharia da agronomia, ou à engenharia mecânica que desenvolve todo o extraordinário maquinário, ou à engenharia de produção que também lançando mão dos novos recursos tecnológicos levou a cadeia de valor do setor a patamares antes inimagináveis. Basta lembrar, como já comentei em textos anteriores, que o Brasil sozinho tem condição de produzir de 48 a 50 % de toda a comida do mundo! Nenhuma surpresa, para quem é observador, sobre as ações / atitudes de países como a China em relação ao Brasil. Sob o ponto de vista da China há, a longo prazo, muita coisa em jogo. Segurança alimentar é uma questão de segurança nacional que vai obviamente além da “amizade” entre nações. Mas voltando à engenharia civil para responder a nossa questão basta pensar na logística da cadeia de valor. A produção precisa ser irrigada. Precisa ser armazenada e transportada ao seu destino final. Desde a pesquisa operacional tradicional à viabilização técnica dos modais de transporte, a engenharia civil se faz essencial: Rodovias, ferrovias, portos aeroportos entre tantas outras coisas.

Mas em momento de desafio, mesmo que transitório, como o que vivemos com a pandemia em curso, é essencial uma coordenação centralizada de todos estes recursos. Ações isoladas de governos locais e regionais por ignorância dos impactos na logística geral de transporte, armazenamento e distribuição de alimentos, medicamentos e tantos outros insumos essenciais chega a ser uma barbaridade. Mais grave ainda se há interesses mesquinhos de poder e dominação a todo custo disfarçados de defesa ao bem comum. Um exemplo é a estrutura de produção e distribuição de equipamentos médicos como respiradores que precisam chegar a seu destino.

Isto nos remete aos hospitais onde além de todo o seu corpo médico, enfermeiros (as) e staff de apoio, tudo depende hoje de aparelhos e sistemas de engenharia. Se quisermos nos ater apenas à estrutura física das instalações hospitalares podemos pensar também na construção de centros de saúde e hospitais e instalações hospitalares emergenciais em todo o mundo. Sem os engenheiros não daria para fazer isso.

Se prevalecer um mínimo de bom senso, o Brasil tem todos os meios para vencer bem este momento. Em alguns pontos aproveitando o aprendizado de outros países, adaptando à realidade local e até fazendo melhor algumas coisas. Apesar de muitas coisas o Brasil tem uma boa engenharia que, além disso e cada vez mais, vai se integrando e lançando mão de tecnologias desenvolvidas, dentre outras, pela engenharia eletrônica e a engenharia da computação e que por sua vez, são viabilizadas pela ciência da computação e ciência de dados, juntas rumo aos primórdios da inteligência artificial. Quando atravessarmos o túnel ate o fim desta pandemia, a engenharia e os engenheiros terão feito a sua parte. Claro, se o que há de mal na política brasileira não conseguir atrapalhar demais.

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