Audiência Pública do MPT reúne denúncias de práticas antissindicais no Paraná

Senge Paraná
22.JUN.2018

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Carlos Bittencourt, presidente do Senge e integrante da coordenação do Fórum, participou do evento (Foto: Gibran Mendes)

As ações para dificultar a organização sindical dos trabalhadores partem de diferentes “patrões” e se intensificaram após a Reforma Trabalhista. Foi o que mostrou uma Audiência Pública realizada nesta quarta-feira (20) pelo Ministério Público do Trabalho, em Curitiba, que reuniu cerca de 200 pessoas, entre representantes de trabalhadores e advogados de sindicatos. A iniciativa do MPT integra as ações do Fórum Estadual em Defesa da Liberdade Sindical, lançado em março, com participação de mais de 100 entidades, entre elas o Senge-PR. Carlos Bittencourt, presidente do Senge e integrante da coordenação do Fórum, participou do evento.

“Nós estamos num momento de regressão muito grande, em que se usa o Judiciário para impedir os direitos coletivos”, alertou Sandro Lunardi, advogado trabalhista e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), durante a audiência. Exemplo recente da interferência do Judiciário na organização dos trabalhadores ocorreu na greve dos petroleiros, no final de maio. Antes mesmo no início da paralisação, o Tribunal Superior do Trabalho negou o direito à greve por entender que ela ocorreria por “motivação política-ideológica”. Em caso de descumprimento, a multa seria de 500 mil reais por dia.

A medida judicial acirrou a relação já conturbada entre a direção da Petrobras e dos funcionários da empresa. O presidente do Sindicato dos Petroleiros do Paraná e de Santa Catarina (Sindipetro PR e SC), Mário Dal Zot, relatou a pressão sofridas pelos trabalhadores da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), localizada em Araucária (PR): “No final do primeiro dia da greve, a empresa já tinha convocado os trabalhadores em suas casas como cartas de convocação, dizendo que estava descumprindo, assustando a famílias, muitas vezes a família, o marido, a esposa, os filhos”. Também houve o uso de cartas de advertência por escritos, chamando os trabalhadores diretamente, com duas testemunhas, prometendo suspensão e demissão.

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Mário Dal Zot, presidente do Sindicato dos Petroleiros do Paraná e de Santa Catarina (Sindipetro PR e SC) (Foto: Gibran Mendes)

No caso da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados do Paraná (Fafen), de controle da Petrobras e localizada ao lado da Repar, as punições aos trabalhadores que aderiram ao movimento também vieram com advertências. Conforme explicou Gerson Castellano, representante do Sindicato dos Petroquímicos do Paraná (Sindiquímica) e da Federação Única dos Petroleiros (FUP), os trabalhadores suspenderam as horas extras duas horas antes do início da paralisação, como forma de garantir a greve. A reação da empresa veio com a imposição de advertências a cerca de 80 petroquímicos. “Isso que está acontecendo agora é consequência do golpe que acontece no país”, alerta Castellano.

As práticas antissindicais da Petrobras foram denunciadas pela CUT e pela FUP ao Comitê de Liberdade Sindical da Organização Internacional do Trabalho (OIT), no dia 8 de junho.

A montadora Fiat de Campo Largo, Região Metropolitana de Curitiba, também foi alvo de denúncia. Os atos antissindicais começaram em 2011, quando a empresa demitiu funcionários em represália a uma campanha de filiação do sindicato: “Saímos de 22 filiado para mais de 45% da planta de Campo Largo, que tinha 450 trabalhadores. Como reação, a empresa demitiu um terço da fábrica para acabar com os filiados do sindicato, e nós voltamos a ter 22 trabalhadores”, relatou Adriano Carlesso, presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Empresas Montadoras de Veículos, Chassis e Motores de Campo Largo/PR (Sindimovec).

A rede de restaurantes Madero, o supermercado Condor, e o governo do Paraná – em especial a Secretaria de Saúde – também foram alvo de denúncias ao longo da audiência. “É função do Fórum atuar como espaço de recebimento das denúncias, como também dar o encaminhamento para providências específicas, seja no âmbito no Ministério Público, seja no âmbito de outras instituições”, garantiu, ao final do evento, o procurador do Trabalho Alberto Emiliano de Oliveira Neto, vice-coordenador da Coordenadoria Nacional de Promoção da Liberdade Sindical (Conalis) do MPT e um dos idealizadores do Fórum Estadual em Defesa da Liberdade Sindical.

Legislação brasileira é omissa

Para o procurador do Trabalho Alberto Emiliano de Oliveira Neto, a reforma trabalhista é omissa no que tange os atos antissindicais. “Não houve uma preocupação do legislador em tipificar e estabelecer mecanismos de responsabilização dos atos antissindicais”. Na avaliação do procurador, para a além do aspecto precarizante, a reforma fragmenta a representação sindical e dificulta a organização dos trabalhadores.

Esta característica da reforma vão contra a Convenção 98 da OIT, que trata dos atos antissindicais, da qual o Brasil é signatário. O Estado brasileiro “é omisso no que tange não só a tipificação da conduta, mas também na definição de mecanismos de combate”, apontou o integrante do MPT.

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Da esquerda para a direita: procurador do Trabalho Alberto Emiliano de Oliveira Neto e advogado Sandro Lunardi (Foto: Gibran Mendes)

Na avaliação do advogado Sandro Lunardi, o governo Temer tem adotado medidas que contribuem para as práticas antissindicais, em especial pelo protagonismo na proposição da reforma trabalhista. Além disso, frisou a opção do governo em não repor o número de auditores fiscais do trabalho. “O que se enxerga no dia a dia é uma completa interdição da condição de cidadão no local de trabalho”, lamentou.

Dados do mundo

O relatório de 2018 da Confederação Sindical Internacional mostra um quadro de violência do Estado e de patrões aos sindical. Do total de 142 países analisados, 65% excluem trabalhadores da legislação laboral, 87% violam o direito de greve e 81% dificultam a negociação coletiva, conforme dados apresentados pelo advogado Sandro Lunardi.

Em uma alusão à Copa do Mundo, o advogado apresentou o “Grupos da morte” nas práticas antissindicais, onde estão aos países com maiores violações: Arábia Saudita, com abusos contra trabalhadores migrantes, repressão do estado e trabalho forçado; Colômbia, assassinatos de lideranças sindicais, com média 50 por ano, além do desprezo à negociação coletiva; Egito, repressão do estado, discriminação e prisões massivas; Turquia, prisão de dirigentes sindicais, discriminação e dispensas.

O “Top nove” lista as nações onde os direitos sindicais são razoavelmente respeitados: Alemanha, Bélgica, Dinamarca, Islândia, Itália, Noruega, Países Baixos, Suécia e Uruguai – único país da América onde os direitos sindicais são respeitados.

Texto: Ednubia Ghisi, jornalista do Senge-PR 
Fotos: Gibran Mendes, jornalista da CUT-PR

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