Copel trocou empregados por terceirizados

Mudança diminui participação dos funcionários e controle sobre a transparência

Foto: Daniela Catisti/Copel
Comunicação
05.ABR.2022

Menos funcionários, mais terceirizados, menos custos, mais lucros. Nos últimos 11 anos, a Copel, maior empresa do Paraná, simplesmente trocou a forma como se relaciona com seus colaboradores. Ano a ano demitiu copelianos enquanto avançava na contratação de terceirizados. A mudança faz com que a Copel reduza custos operacionais de um lado, enquanto exige mais de seus funcionários e aumenta o lucro dos acionistas privados.

A troca está nos números. Em 2010, a companhia de energia paranaense tinha 8907 empregados, excluindo as controladas. Essa quantidade caiu para 6538 em 2021. Redução de 30%. Já os terceirizados saltaram de 5225, em 2010, para 8420 em 2021. Os dados estão nos registros do Ministério Público do Trabalho, na RAIS e na divulgação da Copel, sendo compilados pelo DIEESE-PR. 

Fonte: Balanços Copel – Compilação: Senge Paraná.

Para o Departamento, essa tendência de redução no número de empregados, entre 2010 e 2021, também foi observada entre os Empregados com controladas (-32,09%), Estagiários (-40,74%) e Aprendizes (-57,94%) – em conjunto, a diminuição foi de 3.630 postos de trabalho. Estão entre as controladas pela Copel empresas como Compagás, Usina Elétrica a Gás de Araucária – UEGA, Centrais Elétricas do Rio Jordão – ELEJOR, Bela Vista Geração de Energia e 4 empresas de Transmissão de Energia – Marumbi, Uirapuru, Mata de Santa Genebra e Costa Oeste. 

“A única categoria que apresentou crescimento no número de empregados foi a de Terceirizados, que passou a contar com 8.420 empregados, em 2021, frente a 5.225 empregados, em 2010 – aumento de 3.195 empregos (52,43%)”, contabiliza o estudo encomendado pelo Senge-PR.

Distribuição de dividendos pesa na conta de luz

Para o presidente do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná, Leandro Grassmann, essa política de gestão traz um diagnóstico claro e um problema. O primeiro é que o modelo aumenta as atribuições dos funcionários sem necessariamente remunerá-los por isso.

“Os terceirizados não têm direito a receber participação nos lucros da empresa. E mesmo os copelianos estão vendo o resultado do seu trabalho ser pior remunerado. Enquanto se paga R$ 290 milhões de PLR, se distribui R$ 3 bilhões de dividendos. A sociedade paranaense precisa entender que o grande custo na sua conta de luz não é para remunerar os trabalhadores e sim para engordar a poupança dos acionistas”, compara Leandro.

Segundo balanço de 2021 divulgado pela Copel, o custo total de mão de obra em 2021 foi de R$2,05 bilhões. Estão inclusos nesta soma salários, impostos e benefícios.

Com relação ao problema, o Senge-PR e os sindicatos da Copel enxergam dificuldade na fiscalização de contratos. As entidades apontam que em muitos casos funcionários da Copel têm que realizar serviços que foram delegados às terceirizadas. Ao delegar a outra empresa a execução de serviços, transfere-se a responsabilidade pela qualidade e gestão de custos.

“A consequência disso é que empregados destas terceirizadas têm jornadas exaustivas, sofrem com ameaças e não têm os mesmos benefícios que os empregados próprios (vale alimentação, plano de saúde, por exemplo)”, esclarece o Coletivo Sindical da Copel, que complementa informando que “a rotatividade de mão de obra em algumas empresas terceirizadas é absurdamente alta, demonstrando as piores condições de trabalho e ocasionando pior prestação de serviços”.

Presidente da Copel Daniel Slaviero. Foto: Geraldo Bubniak/AEN

Transparência e fiscalização dos contratos

Os contratos com estas empresas terceirizadas não estão disponíveis no Portal da Transparência da Copel. Não se presta contas à sociedade sobre a forma de fiscalização, acompanhamento do contrato ou sanções às empresas que os descumprem. Nem sequer os sindicatos podem acompanhar os empregados terceirizados porque estão enquadrados em outras atividades econômicas, sendo sujeitos ao acompanhamento de outras entidades sindicais. Na prática, a empresa pulveriza a responsabilidade pelo acompanhamento das condições de trabalho e pela fiscalização.

Essa segmentação, aliados à falta de transparência e de controle pela sociedade podem levar a conflitos de interesses. Em 2021, por exemplo, as entidades denunciaram que “Possível novo Diretor da GeT Copel é sócio de 14 CNPJ na área de transmissão”. O Diretor assumiu o cargo e nada foi esclarecido sobre potencial conflito de interesses.

Ratinho manteve política de terceirização

De acordo com o estudo do DIEESE, o governo Ratinho Junior (PSD) manteve e intensificou a política de substituição de empregos iniciada no Governo Beto Richa (PSDB). “Comparando os dados de 2021 com 2018, verificamos quedas de 14,10% dos Empregados sem controladas, de 11,11% dos Estagiários e de 45,64% dos Aprendizes, em contrapartida, verificamos aumento de 29,14% nos Terceirizados, que passaram de 6.520 em 2018 para 8.420 em 2021”, esclarece a “Análise dos Indicadores Operacionais e Financeiros da Companhia Paranaense de Energia (Copel) – 2018 a 2021”.

Quando considerado apenas o período de 2018 a 2021, o número de empregados, com e sem as controladas, também sofreu redução contínua, É possível constatar que o número de trabalhadores da Copel, sem as controladas, teve redução de 14,10% (de 7.611 para 6.538), enquanto que com as controladas a diminuição foi maior, de 16,11% (de 7.794 para 6.538), entre 2018 e 2021.

Placa na sede da Copel mostra que foco da empresa é gerar lucros

Esses são efeitos do modelo de negócio adotado pelo presidente da companhia, Daniel Slavieiro, que enaltece o slogan “Estatal com mindset privado”. A empresa tem batido recordes de lucros sem que isso seja revertido na contratação de novos profissionais e que os copelianos recebam uma fatia maior desse bolo. 

As entidades sindicais ainda alertam que na empresa não há sequer Plano de Cargos e Salários, as progressões salariais não são transparentes e, para a maioria dos empregados, inexistente.

“Desde 2015, as negociações coletivas são cada vez mais difíceis – as alegações são de que não se pode aumentar os custos com mão de obra. Paradoxo, uma vez que sempre há espaço para pagar mais dividendos, segundo palavras do CFO Adriano Rudek de Moura durante a divulgação dos resultados de 2021”, contesta o Coletivo.

Lucro aumentou mais do que despesas

Embora os Custos Operacionais cresceram 66,23%, passando de R$ 11,5 bilhões para R$ 19,1 bilhões, entre 2018 e 2021, o fato é que o Lucro Operacional e o Lucro Líquido da companhia, no mesmo período, tiveram crescimentos maiores, de 161,69% e 167,25% respectivamente. O Lucro Operacional passou de R$ 1,9 bilhão, em 2018, para R$ 5,1 bilhões, em 2021, enquanto o Lucro Líquido passou de R$ 1,4 bilhão para R$ 3,8 bilhões, no mesmo período. Os dividendos pagos aos acionistas cresceram numa proporção ainda maior. Passaram de R$ 378 milhões em 2018 para R$3,088 bilhões em 2021. 

Fonte: Balanços Copel – Compilação: Senge Paraná

Na análise do deputado Requião Filho (PT), esse é o resultado de uma política entreguista, que tenta privatizar as estatais para gerar lucro a investidores estrangeiros, sem compromisso com os investimentos necessários que priorizem a população.

“O paranaense sofreu muito durante a pandemia e viu suas tarifas de luz aumentarem brutalmente, mas não teve o mesmo retorno, o mesmo olhar cuidadoso do Governo do Estado. Nem em investimentos, nem em incentivos para aliviar o bolso dessas famílias. Agora a Copel vai distribuir a maior parte desse lucro e pagar dividendos complementares bilionários a quem sequer conhece o Paraná”, critica.

Sem controle acionário

Deste lucro, o Governo do Estado fica apenas com um terço do que foi distribuído aos acionistas: R$ 3,08 bilhões. Atualmente, o Paraná detém 31,1% das ações, enquanto que o mercado financeiro acumula 44,2% das ações. O descontrole sobre a companhia aumenta quando são analisadas as ações UNITS (saiba o que é UNIT aqui). Segundo a Copel, cada UNIT será composta de 1 (uma) ação ordinária (“ON”) e 4 (quatro) ações preferenciais classe “B”(“PNB”) de emissão da Companhia (“Múltiplos de Ações”) e depositadas perante o Banco Bradesco S.A., na qualidade de agente emissor das UNITs (“Agente Emissor”). Atualmente a Copel detém 12,2% dessas ações, enquanto o BNDESPAR controla 53,3% e a Bolsa de Valores tem custódia de 32,5%. Entre 22 de março e 20 de abril de 2021, está aberta a janela de conversão de ações da Copel para formação de UNITs.

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