Dia Internacional da Igualdade da Mulher | O que mais queremos?

A diretora e coordenadora do Coletivo de Mulheres do Senge-PR, Ágatha Branco, faz uma reflexão sobre as conquistas das mulheres até aqui, e sobre as lutas presentes e futuras

Comunicação
26.AGO.2020

Por Ágatha Branco – Engenheira Cartógrafa, diretora e coordenadora do Coletivo de Mulheres do Senge-PR

Sempre que vou a um evento técnico minha primeira observação é: quantas mulheres estão participando tecnicamente do evento. Se existe uma premiação, quantas serão premiadas. Qual é a representatividade existente no evento. Quando chego para uma reunião em empresa privada ou pública, vejo quantas mulheres estão ali atuando tecnicamente, e se o cargo de diretoria e gerência são compostos por mulheres.

Ter esse equilíbrio no ambiente corporativo é parte de uma conquista que deve ser preservada, e para isso é contínua a luta por direitos. Seja por licença maternidade, licença paternidade, igualdade de salários e de ocupação de cargos no mercado corporativo.

Nós mulheres vivemos uma construção constante para nos tornarmos seres sociais livres, cheias de amarras morais e emocionais, violências psicológicas baseadas em culpas que insistem em nos perseguir.

Uma culpa que é inerente, e embora algumas mulheres sejam criadas hoje para serem independentes, em alguns momentos elas se veem como responsáveis por muitas tarefas não planejadas e tão poucas desejadas, sem ter com quem dividir. Assim é no trabalho, assim é no meio social.

A pandemia colocou uma lupa na questão

Embora tenhamos obtidos muitas conquistas, ainda seguimos com a culpa, seja ela do cuidar, do prover, do apoiar, e sim, a pandemia nos mostra isso de forma ampliada. Neste período que vivemos, além da já dupla jornada, muitas mulheres passaram a cuidar de alguém. Seja dos filhos em tempo integral, dos avós, dos pais ou de algum familiar próximo.

As mulheres agregaram mais demandas de trabalho sem remuneração durante a pandemia. As funções de professoras, organizadoras, cozinheiras, palestrantes. Essa última podemos dizer que é decorrente deste período de vida online, com a moda de “lives” sobre diversos temas. Uma outra característica do estar trabalhando em casa, “home office”, são infinitas reuniões online, que em muitos casos são após o “expediente”.

O que acarreta achar que a mulher deve estar disponível 24 horas para atender quem quer que seja. E sabemos que não se teve aumento de salário, apenas de trabalho. Em alguns casos houve redução de salário e uma “redução de jornada”, que é difícil de mensurar.

Poucos se importam como está a mulher com toda essa carga e se ela está conseguindo dar conta. Nem mesmo por parte dos Sindicatos houve questionamentos sobre como os homens e as mulheres estão atuando neste período de pandemia, como devem se portar diante das demandas, como devem partilhar para não pesar apenas para um lado.

Por outro lado, surgem grupos de apoio nas redes sociais, onde mulheres se organizam para conversas online, e isso pode ser a salvação de muitas para que, mesmo com tantos afazeres, cuidando de tantas pessoas, não se sintam solitárias mesmo em uma casa cheia.

Não existe uma fórmula, mas é fácil fazer a divisão dos afazeres de casa para que o todo o peso não fique apenas com a mulher. Que o homem se ache o máximo por lavar uma louça beira o ridículo. Lembrem-se de que a casa é da família, e todos devem ajudar e dividir as tarefas, formando uma equipe, assim como em uma empresa.

As vitórias das feministas no Brasil

Na educação

No Brasil, mulheres só puderam frequentar a escola básica a partir de 1927, e as universidades cinquenta anos depois, em 1979.

Trabalho

De acordo com o Código Civil de 1916, a mulher só poderia trabalhar fora caso o marido lhe desse autorização. Foi só em 1943 que, segundo a Consolidação das Leis Trabalhistas, isso mudou.

Licença-maternidade

Em 1934 a Constituição previu que as mulheres ficariam sem trabalhar um mês antes e um mês depois de nascer o bebê. Além disso, a demissão de grávidas passou a ser proibida. Em 1988, o período se estendeu para 120 dias. E aqui cabe dizer que o pai tem direito a cinco dias de licença-paternidade, o que já indica a sobrecarga da criação dos filhos para a mulher.

Voto

O direito ao voto só foi conquistado em 1932. Em 1934, a primeira representante política do gênero feminino foi eleita no país: Carlota Pereira de Queiroz.

Casamento

Em 1916, com aprovação do Código Civil, apenas o homem era responsável pela família e o casamento poderia ser anulado pelo marido caso descobrisse que a esposa não era virgem. A família da noiva também poderia deserdá-la. Essas regras mudaram apenas em 2002.

Divórcio

Em 1977, o divórcio passou a ser permitido por lei. Antes disso, o casal só poderia se separar em casos de traição, tentativa de morte ou abandono do lar.

Anticoncepcional

Em 1962, o Brasil começou a vender anticoncepcionais. A mudança possibilitou que elas pudessem se relacionar sexualmente com mais parceiros.

Violência contra a mulher

A primeira Delegacia da Mulher foi criada em 1985. Em 2006, surgiu a Lei Maria da Penha, com mecanismo para punições em caso de violência doméstica.

Cotas na política

Em 1997 a lei passou a garantir uma reserva de 30% de vagas para mulheres em partidos políticos. Existem muitos questionamentos para que esse direito seja eliminado.

A luta da mulher para garantir seu espaço no mercado e alcançar melhores condições de trabalho deixou marcas na história do Brasil. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no país, entre a década de 1940 e 1990, as mulheres no âmbito trabalhista passaram de 2,8 milhões para 22,8 milhões. Assim, em 1940, a população ativa feminina passou de 19% para 35% e estava concentrada no setor primário da economia. Cinquenta anos depois, 74% da população ativa estavam concentrados em atividades do setor terciário, como serviços comunitários, de saúde, educação ou domésticos.

O Senge Paraná, por meio do Coletivo de Mulheres, tem entre suas linhas de atuação a luta em ações de políticas de combate à desigualdade nas relações do trabalho. A ênfase para 2020/2021 é pelo combate do assédio em suas diversas linhas, além de busca pela igualdade de cargos e de salário.

Mulheres na luta sindical

É importante salientar as conquistas das últimas décadas e perceber que, por pior que esteja a situação atual, é uma situação muito melhor do que a vivida pelas mulheres de gerações anteriores. Resgatar a história dos direitos das mulheres é fundamental para que possamos perceber e valorizar essas mudanças, divulgando e incentivando novas gerações a continuarem lutando por direitos para as mulheres como tem feito o movimento sindical.

Sabemos que os tempos atuais, com perdas de conquistas trabalhistas que irão refletir no futuro, não são motivo para comemoração, e ainda é necessário continuar combatendo a mentalidade que tenta fazer com que retornemos a um passado que apenas humilhava as mulheres.

A representatividade da mulher no movimento sindical sempre foi merecedora de destaque, seja pela função de liderança exercida à frente do movimento, seja pela atuação como base de uma categoria formadora de opinião.

Nesse sentido, vale colocar que a mulher tem grande participação na luta sindical, na política partidária e demais instâncias do poder, e não podemos perder esse espaço que conquistamos com muita luta e dor.

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