Sanepar supera estiagem e pandemia e obtém aumento da receita líquida

Lucro líquido é maior em relação a 2018, mas mercado pressiona por novos reajustes na tarifa

Foto: José Fernando Ogura/AEN

A Sanepar apresentou os resultados em relação ao quarto trimestre de 2020 e o anual. Mesmo com a estiagem que obrigou a empresa a promover racionamento de água e com a pandemia de Covid-19, ela apresentou crescimento em relação a sua receita líquida e patrimônio. Por outro lado, a Sanepar teve queda de 7,7% no lucro líquido. Diminuição que não pode ser atribuída ao adiamento do reajuste tarifário. O menor lucro tem como efeito o PAI – Programa de Aposentadoria Incentivada, que impacta nas despesas com pessoal.

No ano atípico da pandemia e racionamento, a Sanepar conseguiu manter estável seu lucro EBITDA (sem contar juros e descontos) em relação ao ano anterior. 2020 registrou R$ 1,93 bilhão contra R$ 1,97 bilhão de 2019. Uma ligeira queda de 2%. Mesmo assim, a receita líquida da empresa seguiu crescendo. Saltou de 4,1 bilhões de reais em 2018 para 4,72 bilhões em 2019 e atingiu 4,8 bilhões em 2020. O patrimônio líquido cresceu de R$ 6,17 bilhões em 2019 para R$ 6,94 bilhões em 2020, com acréscimo de 12,5%.

Lucro menor, mas alto

Já o lucro líquido da empresa de saneamento caiu 7,7% em relação a 2019. Saiu de pouco mais de R$ 1 bilhão para R$ 996 milhões em 2020. Mesmo assim, os resultados são superiores se comparados a 2018, quando a empresa teve lucro líquido de R$ 892 milhões. 

Embora a empresa possa alegar que a diminuição no lucro seja atribuída ao não reajuste da tarifa que está sendo aplicado agora em fevereiro de 2021, parte da queda do seu vasto lucro está no pagamento do programa de aposentadoria Incentivada (PAI). Segundo o demonstrativo de resultados apresentado ao mercado financeiro, a Sanepar destinou R$ 132 milhões em 2020 para esses pagamentos. “Grande parte deste EBITDA está o nosso PAI que teve adesão de 575  funcionários e o custo de R$ 132 milhões”, confirma o diretor financeiro e relação com investidores da Sanepar, Abel Demétrio.

Essas despesas não aconteceram em 2019 e 2020, por exemplo, como explica o economista do DIEESE, Fabiano Camargo. “O Programa de Aposentadorias Incentivadas (PAI), implementado no ano passado, que resultou na saída desses trabalhadores, o que resultará em uma economia considerável para empresa nos próximos anos, a redução no número de trabalhadores que, inclusive, tem sido uma prática recorrente nos últimos anos. Deste modo, considerando os eventos não recorrentes a redução do Lucro Líquido teria sido de apenas 1,92%”, destaca o economista. 

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Para o especialista em contas públicas, a apresentação do relatório anual da empresa desmonta o argumento de que a empresa não consegue investir, se manter e ter lucro sem os reajustes acima da inflação dos últimos anos. Fabiano Camargo observa que o Lucro Líquido da companhia cresceu de modo significativo nos últimos anos, impulsionado principalmente pelos expressivos aumentos tarifários ocorridos a partir de 2011.

“Além disso, mesmo com o cenário adverso podemos afirmar que seus resultados foram pouco afetados, inclusive com o adiamento do reajuste tarifário em decorrência da pandemia e que foi implementado agora no dia 5 de fevereiro, o Lucro da companhia se manteve próximo a R$ 1 bilhão sem falar que os seus indicadores econômico financeiros continuam apresentando desempenhos sólidos”, avalia Camargo. 

Foto: Rodrigo Felix Leal/ANPr

Mercado pressiona por maior reajuste tarifário 

O mercado financeiro demonstrou interesse no reajuste da tarifa nos próximos meses. Essa foi a pergunta da XP Investimentos levando em consideração que “a troca do reajuste foi arbitrária e autoritária por parte da Agepar, o que foi um retrocesso”. A demanda foi a mesma da Agência Credit Suisse e da Walking Reserve, questionando as referências para compor a tarifa e a atuação do Ministério Público do Paraná. A Agepar alterou a base de cálculo de IGPM para IPCA, o que diminuiu o valor do aumento tarifário.

A Sanepar disse que quer a compensação dessa mudança de critério em favor da companhia e que um novo trabalho já foi apresentado sobre um novo reajuste tarifário.  Segundo Abel Demétrio, a queda do reajuste de 9,62% para 5,11%  já foi aplicado e que parte dessa compensação pode ser aplicada no novo reajuste em maio.

“A companhia não pode abrir mão das metodologias de reajuste. Nós estamos com a equipe de regulação e identificamos pontos na reunião do Conselho de Administração e vamos encaminhar à Agepar. Essa mudança de critério gera impasse para a companhia”, analisa Abel Demétrio, que não revelou os pontos de debate com a agência reguladora.

Foto: José Fernando Ogura/AEN

Chuvas melhoram e intensidade do rodízio pode reduzir em março

As chuvas de verão melhoraram o volume das represas no entorno de Curitiba. No entanto, os índices ainda são inferiores aos registrados no começo de 2020. A represa com melhor resultado é a de Piraquara II com 66% de volume em dezembro. Atualmente está em 48% a média de todas as barragens.

“As chuvas de dezembro contribuíram para o processo de recuperação dos mananciais, que estão em curso na região leste e oeste e mais atrasado na região central. Na RMC, os rios Pequeno, Miringuáva e Passaúna estão com níveis próximos de suas médias de longo período, em um processo de recuperação progressiva. Para os seis próximos meses o comportamento do clima no Paraná será influenciado pelo evento La Niña de intensidade moderada a forte (sinal climático desfavorável para ocorrência de chuvas acima da média)”, alerta o relatório.

Já o diretor financeiro da Sanepar destacou que “a economia feita pelas pessoas tem impacto nas receitas, mas é fundamental para manter a operação da empresa. Nós ainda tivemos uma alta no último trimestre em relação a 2019 com R$ 291 milhões de lucro líquido”.

A Sanepar ainda aposta no crescimento do volume dos reservatórios a níveis de 70% com novas chuvas. A expectativa é atingir já em março 60% do volume, o que pode dar início a redução da intensidade do rodízio. “Nós vamos sair mais fortalecidos desse período de estiagem e pandemia”, dizem os diretores da empresa.

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