APAGÃO: “Estamos comprando energia a prazo”

A falta de planejamento e a estratégia errada devem agravar a crise energética no país, mesmo com retorno das chuvas

Senge Inovação debate os custos e caminhos da crise energética

Mesmo com o retorno das chuvas, a crise energética no Brasil não será resolvida em curto prazo. Administrada sem planejamento e estratégia, seus efeitos devem se estender até 2023 com os custos sendo pagos a prazo pelos consumidores. É o que avaliam os especialistas que participaram do debate realizado pelo Senge Inovação na live “A Privatização da Eletrobrás, a crise hídrica e o risco de apagão no Paraná e no Brasil”. Para eles, o cenário segue sendo assustador com o Governo Federal apostando em usinas de carvão e termelétricas, com a falta de investimento das empresas públicas e privadas de energia e com a desregulamentação do setor energético brasileiro. 

O presidente do Senge-PR, Leandro Grassmann, conversou com Ronaldo Goulart Bicalho, pesquisador e Professor de Economia UFRJ, e Nelton Friedrich, ex-deputado federal constituinte, ex-Diretor da Copel e da Itaipu Binacional, dentro do programa Senge Inovação. Dentro do debate se avaliou que o Brasil está muito perto de ter novamente apagões. A crise hídrica e a falta de investimentos e planejamento são os principais fatores para que isso possa acontecer e o Governo Bolsonaro sabia disso. 

Se de um lado o Brasil produz energia limpa, de outro, é dependente da produção hidrelétrica. 64,9% da energia produzida provém das hidrelétricas. 8,6% provém das térmicas e apenas 1% é provindo de energia solar.

Por outro lado, o Governo Bolsonaro tem direcionado a produção de energia não renovável, em especial, focando em carvão. No entanto, segundo nota técnica do DIEESE, o carvão tem uma pequena participação na geração de energia. Em torno de 3%. Essa geração de energia está concentrada no sul do país e é pouco relevante para suportar o enfrentamento de crises hidrológicas como a que o país está enfrentando.

Ocorre que o problema está sendo empurrado para abril. E o momento de se fazer racionamento não se escolhe. O racionamento se impõe. O Brasil já teve essa experiência com Fernando Henrique Cardoso entre julho de 2001 a fevereiro de 2002.

Para Bicalho, o governo tem fugido do racionamento apostando em energias não renováveis cuja fatura já chegou e continuará chegando aos lares e empresas brasileiras. 

“O racionamento, a gente já contratou. A questão é quando ele vai ser acionado. “Tem gente dizendo que as térmicas vão custar R$ 25 bilhões. Ano passado estava em R$ 8 bilhões. E se essa conta não for paga agora, será paga em 2022. Estamos comprando energia a prazo”.

Para Bicalho, setor energético não é tratado como estratégico pelo governo

Para ele, o Brasil não está tratando a questão energética com planejamento e estratégia. A visão é de curto prazo e focada em interesses particulares. “O setor elétrico está uma zona. Todo mundo quer pendurar seu interesse. Tem um monte de jabuti no tema”, alerta.

Para Nelton Friedrich, desde maio era sabido do risco de apagão e os governantes não tomam providências para evitar o caos. “Estamos falando de apagão com a economia patinando. Imagina se estivesse crescendo”, indaga.

Ele destacou o processo de privatização do setor e a falta de compromisso de empresas com a geração de energia sustentável e voltada para o interesse da população. “Estamos dominados por uma agenda de negócios e não de interesse do povo. A gente vê isso na venda da Eletrobras. Fizeram uma privatização de fim de feira. Aí volta pra usina de carvão”, pondera.

Friedrich defendeu investimentos e criticou compromisso de governos e empresas privadas

Segundo Friedrich, um dos nossos maiores problemas é a falta de investimentos. Muitas empresas públicas e privadas de energia estão lucrando muito na pandemia. Em contrapartida, faltam empenho em promover o futuro. A Copel, por exemplo, acabou de anunciar que vai antecipar R$ 1,4 bilhão em dividendos por causa do excesso de caixa da venda da Copel Telecom. 

“Dizem que o problema é a falta de chuva. Mas cadê outras medidas de reaproveitamento de água? No Paraná, vimos nascentes morrendo. Isso acontece na especulação imobiliária”, comentou.

Posição semelhante à do presidente do Senge-PR. “O dinheiro da Copel Telecom foi para acionistas por excesso de fluidez. Como tem lucro para uma empresa à beira de um apagão?”, cobrou Grassmann.

::. SENGE INOVAÇÃO: A privatização da Eletrobrás, a crise hídrica e o risco de apagão no Paraná e no Brasil

AGENDA: AUDIÊNCIA PÚBLICA DIA 25 DE OUTUBRO NA ALEP

O Senge Paraná, o Fórum em Defesa da Copel e os mandatos dos deputados estaduais Goura Nataraj e Requião Filho realizam uma audiência pública na Assembleia Legislativa no dia 25 de outubro. O evento é virtual com o seguinte tema:

  • A  privatização da Eletrobrás, a crise hídrica e o risco de apagão no Paraná e no Brasil
  • Racionamento e apagão de energia elétrica e a privatização da Eletrobrás
  • A falta de investimentos da Sanepar
  • A gestão da Copel voltada para o lucro dos acionistas
  • As agressões ao meio ambiente e seus efeitos para a crise atual
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