Copel esconde dos acionistas quedas de energia

“Expurgos” não entram em relatórios de desempenho da companhia

Assessoria de Imprensa - Prefeitura Municipal de Arapongas
Comunicação
04.MAIO.2022

Por Manoel Ramires/Senge-PR

89,59% das reclamações que ocorrem contra a Copel são por interrupção do fornecimento de energia elétrica. Esta informação, no entanto, não consta por completo dos relatórios da empresa que são divulgados aos acionistas, o que acaba camuflando a qualidade do serviço prestado pela empresa e os danos provocados aos consumidores. Este é um dos motivos que fizeram um dos membros da 67a Assembleia Geral Ordinária de acionistas rejeitar o Relatório Anual da Administração. O argumento é de que em nome do lucro, a companhia tem permitido o aumento das ocorrências e o tempo para reparo na rede.

ANEEL registra principais motivos de reclamação da Copel. Fonte: ANEEL

No voto contrário, é observado que a política de maximização dos lucros têm feito com que a companhia ignore alguns indicadores que impactam diretamente na população. Entre esses indicadores estaria a quantidade e o tempo de interrupção do serviço. “Saliente-se ainda que as metas dos administradores focam majoritariamente na redução de custos e obtenção de lucros. As constantes falhas do sistema elétrico e os prazos dilatados para correções tem sua origem exatamente na falta de manutenção e renovação do sistema elétrico”, observa o acionista Leandro Grassmann.

METODOLOGIA MASCARA INFORMAÇÕES

A Copel, em relatório protocolado na Bolsa de Valores dos EUA, diz que a ANEEL exige que as distribuidoras observem certas normas de “continuidade do fornecimento de energia” e esteja atenta a duração das interrupções por cliente por ano ou DEC – Duração Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora e a frequência de interrupções por cliente por ano ou FEC. Ou seja, ela obedece os protocolos determinados pela agência reguladora.

“Nós cumprimos os indicadores de qualidade definidos pela ANEEL para 2021, que penaliza a falta de energia além do número médio de horas por cliente, em cada caso calculados numa base anual. Esses limites variam de acordo com a região geográfica, e o limite médio estabelecido pela ANEEL para a nossa empresa de distribuição foi de 9 horas e 17 minutos de interrupções por cliente por ano, um total de 6,84 interrupções por cliente por ano”, diz a empresa no Relatório 20F.

Tempo de interrupções crescem, mas são descartadas por conta da metodologia adotada – toda área em laranja não é considerada nos indicadores oficiais. Fonte: ANEEL

Por outro lado, o que não se divulga é que devido a metodologia, a empresa simplesmente descarta um terço das interrupções ocorridas e metade da duração das interrupções. Isso ocorre porque – oportunamente – a Copel utiliza-se de artifícios legais para não considerar toda a quantidade das ocorrências tampouco o tempo de reparo necessário, como é observado no voto anexado na 67a Assembleia Geral de Acionistas.

“Os números só fizeram piorar, demonstrando que a política de corte de custos traduz-se em queda no padrão de atendimento de energia elétrica à população. O número de ocorrências de desligamentos emergenciais tem aumentado. Da mesma forma, o tempo necessário para atendimento e restabelecimento também aumentou”, registra.

Segundo a apuração, o aumento desses indicadores que não aparecem nos dados oficiais da Copel se devem a laboratórios fechados, redução de quadro de profissionais, terceirização praticamente irrestrita, alta rotatividade e pouca qualificação nos quadros das empreiteiras.

“O aumento de 714% dos dividendos distribuídos aos acionistas em relação à gestão anterior não ‘vem de graça’. Tem seu custo. A quantidade de ocorrências de falta de energia aumentou 7,7%, o tempo médio de restabelecimento aumentou 20% e as compensações por desconformidade de tensão aumentaram 557%. E a Copel, embora informe esses números à ANEEL, não os divulga nem ao público nem aos acionistas. Está na hora de começar a discutir estes temas no âmbito destas Assembleias”, contextualiza Grassmann.

Para a Copel, “os indicadores de meta de qualidade são considerados pela ANEEL durante os procedimentos de renovação da concessão de distribuição e também influenciam o cálculo da ANEEL referente aos nossos ajustes tarifários”. 

Compensações (devoluções ao consumidores) por problemas de tensão aumentaram 557%

Para o voto em separado, percebe-se a intencionalidade de optar pelo caminho economicamente rentável, relegando a segundo plano todos os investimentos que não sejam reconhecidos pela ANEEL e, consequentemente, não sejam incorporados à tarifa.

“Independente da justificativa técnica e de eventuais impactos aos consumidores. Observa-se nos dados que não há priorização nem preocupação da atual Diretoria em manter um padrão adequado de fornecimento de energia, bem como não há respeito à população – esta obrigada a esperar cada vez mais para restabelecimento dos serviços quando ocorrem desligamentos”.

DOCUMENTOS

Associado ao Senge-PR paga meia entrada. Clique na imagem e adquira o ingresso
Voltar a Notícias