QUE TAL UMA TAÇA DE VINHO BIODINÂMICO?

SENGE INOVAÇÃO: A ciência, a arte e o sabor por trás desses vinhos

Foto: Pixabay
Comunicação
08.OUT.2021

País, fruta, corpo, tanino, composição? Muitos desses fatores são observados pelos amantes do vinho. Mas muito poucos prestam atenção se a produção é orgânica, se a plantação faz uso de agroquímicos ou se são biodinâmicos. Até porque essas informações não costumam aparecer nos rótulos. Não faz parte da cultura prestar atenção a esse tipo de informação, sendo que a cultura dos vinhos biodinâmicos têm se ampliado.

Vinhos biodinâmicos são bebidas produzidas a partir dos conceitos desse tipo de agricultura, desde a preparação do solo e adubagem a plantio e colheita. São vinhos agroecológicos, que prega o respeito à natureza e  técnicas que diminuam a exaustão do solo, respeitando a rotação de culturas.

Só que por trás de uma taça de vinho biodinâmico tem muito mais conhecimento, arte e sabor do que imaginamos. Nesta conversa com  Geraldo Deffune, Engenheiro Agrônomo e Ph.D. em Agroecologia e Agricultura Sustentável, docente e pesquisador da UFFS – Universidade Federal da Fronteira Sul, Campus de Laranjeiras do Sul, no Paraná, ele explica sobre a produção de um vinho biodinâmico, curiosidades, dicas e, como não pode deixar de ser, indicou rótulos. 

Pegue sua taça, abra o seu vinho e deguste.

Os degustadores de vinhos estão acostumados a falar em uvas cabernet, pinot noir, shiraz ou em região de produção como Portugal, Chile, África EUA, mas quase nunca os comentários são relativos ao formato de produção, se é orgânico, contém transgênico ou biodinâmico. Os apreciadores deveriam levar isso em conta?

Geraldo Deffune: Sim, o modo de produção não só deveria, como é crescentemente levados em conta pelos enófilos, pois técnicas e práticas ecologicamente corretas, sem uso de agroquímicos, promovem a qualidade intrínseca dos vinhos, tanto organoléptica (aroma, sabor) como sanitária, já que o vinho é considerado um complemento alimentar com propriedades protetoras na saúde preventiva do organismo humano.

A forma de produção, orgânica, biodinâmica ou contendo agrotóxicos influencia no produto final?

Geraldo Deffune: Sim, pois além de eliminar os riscos de intoxicação por agrotóxicos, que pode ser potencializada pelo consumo em bebidas alcoólicas, a ausência de agroquímicos permite que os vinhos expressem mais autenticamente seus “terroirs” – Terruños ou qualidades diferenciais características regionais, locais e tecnológicas de produção, que afetam os aromas e sabores de todos os alimentos, mas são mais notados e valorizados nós vinhos.

Isso ocorre porque, além da interação das videiras com o solo, clima e tratamentos agrícolas, o papel fundamental das leveduras na vinificação do mosto de uvas é importante indicador de sua qualidade e sanidade. As leveduras, especialmente as nativas e melhores de cada terroir, são fungos unicelulares sensíveis à presença de agrotóxicos, principalmente os fungicidas amplamente usados na vitivinicultura convencional agroquímica, além dos elementos nutrientes que são frequentemente desequilibrados nos alimentos pela adubação química que promove antagonismos pela absorção excessiva de alguns em detrimento de outros pela simples concentração de osmótica nas raízes e tecidos vegetais. Leveduras comerciais selecionadas para tolerar agrotóxicos podem ser mais competitivas para resistir a fungicidas, mas não produzem vinhos com terroir autêntico e diferenciado.

Viña Emiliana Carmènére Varietal 2019 (Orgânico)

O Conceito de Varietal é de um vinho  jovem, fresco e descontraído, excelente para o dia a dia. De estilo muito agradável, é ideal para quem está começando a descobrir as maravilhas do mundo do vinho.  A Carmènére é uma uva de origem francesa que se tornou Símbolo da Viticultura Chilena. Em taça, apresenta uma cor rubi médio. Apresenta aromas de frutas vermelhas, como cerejas, notas de especiarias e toques minerais.  Em Boca, tem Corpo Leve, taninos arredondados e agradável persistência. Vai Bem com Hambúrguer Artesanal e Fritas, Bruschettas com Tapenade de Azeitonas e Massa com Legumes Refogados.

Um vinho biodinâmico é mais agroecológico?

Geraldo Deffune: Agroecologia é uma Ciência, não um modo de produção agrícola, frequentemente confundido com a produção Orgânica. A Agricultura Biológico-dinâmica ou Biodinâmica é a mais antiga corrente de métodos agrícolas de base ecológica, que originou a concepção orgânica, que considera e maneja as unidades agro-silvo-pastoris como organismos, ou seja, de forma integrada. Nesse sentido, os produtos e vinhos biodinâmicos podem ser considerados mais autenticamente orgânicos ou ecológicos por envolverem uma Ecologia mais ampla em termos ambientais, sociais, espirituais, planetários e mesmo cósmicos.

Eu discuto esses conceitos em meu trabalho “Cultivos Integrados” que segue anexo. 

::. Leia aqui “Cultivos Integrados em Agricultura Biológico-Dinâmica – CEABD – Dr Geraldo Deffune”

Vinho Tinto Cabernet Sauvignon/Merlot Tapera

Elaborado a partir das uvas Cabernet Sauvignon (70%) e Merlot (30%), cuidadosamente selecionadas, provenientes de vinhedos próprios, cultivados em espaldeira, com uma produção de 1,5 kg por planta. Os vinhedos estão localizados a uma altitude de 1000 metros acima do nível do mar.

O vinho biodinâmico pode ser produzido com diferentes tipos de uva?

Geraldo Deffune: Sim, os vinhos biodinâmicos podem ser produzidos com diferentes tipos de uvas, principalmente com a imensa diversidade de cultivares de videiras autóctones ou originais resilientes e bem adaptadas de cada região, ao invés de cruzamentos comerciais artificialmente selecionados para simples produtividade quantitativa.

Amalaya De Colome (750ml) – 2019

Cor rubi com bordas violetas. Morangos e framboesas maduras, com um toque de pimenta e notas florais. Na boca, sabores a frutos vermelhos, especiarias e notas de baunilha envelhecida em carvalho francês. Taninos redondos e suaves. Vinhedos cultivados biodinamicamente, conduzidos em espaldeira. Colheita realizada no final de Março em pequenas caixas de 15 quilos. Rendimento de 10-12 ton/ha. Maceração a frio por 4 dias, seguida de fermentação alcoólica com leveduras selecionadas e maceração de 18/20 dias. Amadurecimento parcial em barricas de carvalho francês. Clarificação com ovos da fazenda biodinâmica Colomé.

Qual é a principal característica desses vinhos biodinâmicos? E são mais caros?

Geraldo Deffune: A principal característica dos vinhos biodinâmicos é sua qualidade diferencial na expressão do “terroir” ou combinação de resultados combinados das cultivares de videiras e leveduras, solo, clima e práticas de cultivo. Isso se manifesta não apenas nos aromas e sabores, mas também na resistência dos vinhos biodinâmicos à oxidação por envelhecimento ou exposição ao ar, o que leva muitos vitivinicultores biodinâmicos, como o famoso Nicolas Joly, que recomenda abrir seus vinhos brancos até um dia antes da degustação, para permitir sua melhor expressão qualitativa.

O preço dos diversos vinhos biodinâmicos que já estão disponíveis no mercado varia muito de acordo com sua qualidade, volume de oferta e fama, a exemplo do que ocorre com todos os vinhos de qualidade em geral. Inclusive um número significativo dos grandes vinhos mais conhecidos e valorizados no mundo é biodinâmico mesmo sem que isso esteja declarado nos seus rótulos ou oficialmente certificado, pois a qualidade fala por si e a certificação burocrática não adicionaria nenhum atrativo adicional para os enófilos conhecedores.

Savennières Clos Saint Yves 2018

Elaborado com a uva Chenin Blanc pelo especialista Baumard, o melhor produtor de Savennières, este branco é seco e muito elegante. Saboroso e estruturado na boca, com um fino aroma marcado por frutas, flores e um toque mineral. Vinificação: Tradicional, com controle de temperatura em tanque de aço inoxidável. Nenhuma fermentação malolática. Vinhedo: Vinhedos selecionados na região de Savennières no Vale do Loire. Rendimentos limitados e colheita manual. Maturação: Não passa por carvalho para manter o frescor aromático.

Você conhece marcas e preços de vinhos biodinâmicos. Poderia indicar para os leitores?

Geraldo Deffune: Sim, eu conheço inúmeras marcas e vinícolas biodinâmicas disponíveis no mercado brasileiro a partir de preços módicos em torno de R$ 40 até setembro de 2021. A título de exemplos para não incorrer na injustiça da omissão das muitas marcas de vinhos biodinâmicos e orgânicos de qualidade, posso apenas mencionar as seguintes vinícolas: Juan Carrau, do Rio Grande do Sul, o Santa Augusta, de Santa Catarina. Ainda tem Emiliana e Vinecol, do Chile,  Ernesto Catena e Escorihuela Gascón, Amalaya de Colomé, da Argentina, até os mais caros como Aphros (Vinhos Verdes, Minho, Portugal), Tetramythos, da Grécia, Ginglinger e Zind-Humbrecht, da Alsácia, Savennières-Coulée de Serrant (Nicolas Joly, Maine et Loire), Domaine Leroy e o próprio Romanée-Conti da Borgonha, estes últimos da França, além de incontáveis e famosos vinhos espanhóis, italianos, alemães, norte americanos, etc.

Passatempo Vinho Verde DOC

Produzido pela Cooperativa Agrícola de Santo Isidro de Pegões. Jaws é um grupo produtor português com propriedades distribuídas em todas as regiões do país. Ele é conhecido pelo cuidado com todas as etapas desde a escolha do melhor terroir para cada uva até o engarrafamento e distribuição dos rótulos. Sua marca são vinhos frutados e de personalidade agradável que mantêm-se fiéis às características do território e das castas que os originam.

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