Com representantes do mercado financeiro, Conselho da Copel aprova privatização da Copel Telecom

Nem a representação dos empregados votou contra a proposta que vende a empresa líder em banda larga

Foto: Divulgação Copel
Imprensa
16.JUL.2020

Por Manoel Ramires/Senge-PR

O Conselho de Administração da Copel (CAD) aprovou, por unanimidade – e sem surpresas – a proposta de privatização total da Copel Telecom, empresa de Banda Larga que lidera o ranking e é a mais bem avaliada do país. A decisão atende aos interesses do governador Ratinho Junior (PSD) que colocou como prioridade a privatização e aos interesses do mercado, que cobiça a estrutura pronta e a presença da Telecom nos 399 municípios do estado e prestando serviço para o Governo do Paraná. Mesmo com questionamentos judiciais, nem a representante dos empregados votou contra a proposta.

Na reunião do Conselho no último dia 15 de julho, foi aprovado o chamado “Desinvestimento da Copel Telecomunicações”. Na prática, a privatização. Em comunicado prioritário ao mercado financeiro, o CAD informa “aos seus acionistas e ao mercado em geral que o Conselho de Administração da COPEL, em sua 204ª Reunião Ordinária, realizada nesta data, aprovou o desinvestimento de 100% (cem por cento) da participação da Companhia na sua subsidiária integral Copel Telecomunicações S.A. (“Desinvestimento”), com base na conclusão dos estudos os quais foram validados por assessores externos independentes”.

Agora, o Conselho prepara os próximos passos para entregar a empresa ao mercado com  “a abertura de um Virtual Data-Room, envio do processo completo para análise pelo Tribunal de Contas do Estado do Paraná e agendamento e realização de uma audiência pública virtual sobre o Desinvestimento, a ser operacionalizada em conjunto com a B3 S.A. – Brasil, Bolsa, Balcão.

Decisão tendenciosa para o mercado

O que não aparece nas entrelinhas desse comunicado é que os membros são ou foram ligados aos interesses do mercado e não na população paranaense, teoricamente, maior acionista da Telecom. Segundo a Copel, o Conselho de Administração é o órgão de deliberação da Companhia composto por nove membros eleitos em Assembleia Geral para o mandato de dois anos, permitidas, no máximo, três reconduções consecutivas.

No mínimo 30% (trinta por cento) dos membros do Conselho são independentes, ou seja, sem vínculos com a Copel ou o Governo. No entanto, a decisão de quem são estes membros não parece seguir critérios de imparcialidade, visto que boa parte destes Conselheiros são ligados ao mercado de telecomunicações.

Nesta votação, nem a representante dos empregados, Adriana Angela Antoniolli, votou contra a proposta. A privatização é questionada por sindicatos, inclusive judicialmente, por verem prejuízos para a população e para os funcionários. O CAD ainda tem entre seus componentes uma Conselheira que é ‘ex-Telefonica’, ex-TVA’, ‘ex-DirecTV’ e ‘ex-Canbras’ (joint venture entre Abril e Bell Canada), Leila Abraham Loria. Outro membro Carlos Biedermann, que é Conselheiro do Grupo Algar desde 2016 (empresa de Telecom que oferece serviços de TI). O Conselho ainda tem Luiz Claudio Maia Vieira, ‘ex-RPC’, e membro do Conselho de Administração do Grupo Aviva que, curiosamente, pertence ao Grupo Algar. 

Outra representante dos interesses do mercado é Olga Stankevicius Colpo, que também é membro da Comissão de Empresas Familiares do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), organismo conservador que defende as privatizações, como é o caso de André Camargo, coordenador da publicação Governança em privatizações do IBGC, que chegou a dizer que “a pressão econômica causada pela pandemia da Covid-19 tem evidenciado a necessidade de diretrizes claras ante uma eventual agenda brasileira de privatizações na agenda do presidente Jair Bolsonaro.  O IBGC, ao qual Olga é ligada, até editou uma cartilha chamada Governança em Privatizações, que orienta governantes “no processo de venda de empresas estatais, considerando desde a tomada de decisão inicial até a conclusão da privatização e seus efeitos na administração pública, nas atividades econômicas e na sociedade”.

Debate com a sociedade

A decisão do Conselho de Administração da Copel é questionada por entidades sindicais. Para elas, a pressa em vender a Copel Telecom não atende aos interesses da população paranaense e necessitam de muitas explicações. Para o Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná (Senge-PR), o estado erra ao vender uma empresa que lidera o ranking nacional de serviços e sem amplo debate com a sociedade. 

“Infelizmente e novamente, a direção da Copel e o governo Ratinho Junior tem agido alinhado com os interesses do mercado e promovido ações ‘de bastidor’ sem ampla discussão com a sociedade, os empregados e os sindicatos”, observa o presidente Leandro Grassmann.

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