JORNADA DE AGROECOLOGIA: CONJUNÇÃO DE POVOS, TEMAS E AGROBIODIVERSIDADE

Diretora traz reflexões sobre evento que movimentou a cidade a partir do campo

Comunicação
06.DEZ.2023

Por Maria Wanda*

A agroecologia tem crescido em conceito, compreensão e ação, uma vez que ela envolve um modo de produzir-se e de reproduzir-se na relação sociedade e natureza. Procurando abarcar este ambiente amplo e diverso das relações políticas, culturais e socioambientais, em quatro dias de encontro, a 20ª Jornada de Agroecologia** transcorreu com uma conjunção de atividades que envolve o universo da agroecologia. As quais pincelaremos aqui.

Dia Internacional de Combate à Violência contra a mulher

Foi discutido o papel da mulher cultivando afetos a fim de derrotar as violências, visto que o dia 25 de novembro, ocorrido durante o período da jornada, é marcado pelo Dia Internacional de Combate à Violência contra as Mulheres. Apesar dos avanços, que nós mulheres obtivemos em diversas áreas, a violência de gênero persiste como uma realidade inquietante em todo o mundo. Momentos como estes, possibilitam a reflexão sobre os desafios que temos de encarar todos os dias, e também, inspirar-nos para ações concretas em direção a um mundo livre de violência e discriminação.

As sementes enquanto patrimônio dos povos

As sementes crioulas são variedades tradicionais das mais diferentes espécies, melhoradas pelos povos originários e comunidades camponesas do mundo inteiro. No Brasil, a necessidade de sua reprodução, fundamentalmente, devido ao processo de modernização do campo, que não considerou a diversidade dos saberes dos povos do campo, os quais têm sido desconsiderados, é indispensável à sustentabilidade da agricultura camponesa.

A política para a implementação do pacote tecnológico foi para os agricultores/as unilateral e uniliniar. O contexto modernizador gerou a expulsão dos povos do campo, provocando o êxodo rural e negando a biodiversidade. A concepção de ciência dominante é simplificadora da realidade e da diversidade cultural. Se as estatísticas mostram o crescimento do volume da produção agrícola, demonstram também a concentração da propriedade agrícola, da dependência de insumos externos, da degradação ecológica e do empobrecimento do trabalhador/a do campo. Diante desta realidade evidenciar as sementes como patrimônio dos povos, fortalecendo e resgatando as práticas agrícolas é uma das maneiras de garantir a permanência dos povos originários e camponeses/as no campo, com qualidade de vida e soberania alimentar.

Cooperação e os caminhos para uma economia popular

A cooperação para a construção da economia solidária, popular e geração de renda foi tratada como necessária ao enfrentamento do sistema capitalista, de modo a construir caminhos para uma economia popular e emancipatória.

Saúde Mental e Trabalho

Contou com roda de conversa sobre “Saúde Mental e Trabalho”, abordando os impactos suportados pela psique diante das condições aprisionadoras enfrentadas pela classe trabalhadora. No atual cenário de intensificação laboral, e especialmente após a pandemia, a escassez de tempo para as manifestações afetivas, como abraços e contatos físicos, requer de nós reserva de tempo para momentos dedicados ao lúdico, ao afeto, de maneira a manter os laços com as pessoas com as quais temos afinidades. Construir relações baseadas em valores que nos impulsione para a solidariedade, para o riso, para a construção de um mundo justo e igualitário, faz com que a vida se torne, ainda que no interior de um sistema competitivo com uma jornada intensa de trabalho, mais leve e harmoniosa.

Foto: Leonor Costa/Jornada de Agroecologia

Saúde popular

A agroecologia é saúde popular, integrando os povos originários, afro-brasileiros, imigrantes europeus e asiáticos. Todos estes grupos, formadores de um Brasil rico em pluralidade étnica-racial, cultural e social, são detentores/as de conhecimentos ancestrais passados de geração para geração, uma vez que consideramos a saúde uma construção coletiva dos povos.

Educação do Campo

A educação do campo não poderia deixar de ser debatida, apresentando as lutas e as vitórias dos 25 anos da I Conferência Nacional “Por uma Educação Básica do Campo” e da criação do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária – PRONERA, integrando o mundo rural como território de vida em todas as suas dimensões.

Palestina vive

Em um momento em que povo palestino sofre o brutal ataque do estado de Israel, houve performance que possibilitou a reflexão sobre o tema, evidenciando a importância da solidariedade internacionalista, e reforçando a importância dos atos nas ruas em defesa do povo palestino, os quais solicita o imediato cessar-fogo na Faixa de Gaza.

Comer como ato político

Quem foi à feira pode se deliciar com a típica culinária paranaense e brasileira, pois comer é um ato político. A escolha do que se consome, e de quem adquirimos o nosso alimento, reflete no modelo de produção agrícola que iremos fortalecer. Pois, consumir produtos agroecológicos é encorajar a produção sustentável que prioriza a vida, que cuida da natureza, da saúde das pessoas e do ambiente. É colaborar para a justiça socioambiental.

Túnel do tempo

O túnel do tempo nos levou a percorrer pela cronologia das jornadas, tendo como papel resgatar a memória e história das jornadas e o contexto histórico-político de cada período dela, sobretudo dos sujeitos coletivos que constroem os espaços da jornada – os trabalhadores/as do campo e da cidade. Desde os povos faxinalenses, quilombolas, povos originários, agricultores/as familiares, camponeses/as, associações, cooperativas, sindicatos, movimentos sociais, escolas, universidades, e demais coletivos que atuam no ambiente urbano na interlocução da construção de um projeto da classe trabalhadora.

Espaços musicais

Os shows foram uma adição harmoniosa neste mar de atrações com nomes como: Chico César, Leci Brandão, Unidos da Lona Preta, Banda Sr. Barão, Petrus Cuesta, Matula Roots, entre outros/as.

O Senge-PR esteve presente neste espaço, participando e colaborando na construção deste projeto, circundado  por entre livros, oficinas, formações e a diversidade de alimentos, artesanatos, e muita gente passando por aquele ambiente que respirava mudanças vindouras.

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* Maria Wanda é engenheira agrônoma, poeta popular, diretora do Instituto Canto do Caiçara (ICAC) e também, diretora do Sindicato dos Engenheiros e Engenheiras do Estado do Paraná (Senge/PR).

**De 22 a 26 de novembro de 2023, o Campus Rebouças da UFPR – Curitiba foi palco de da 20a Jornada da Agroecologia, estabelecida desde o ano de 2001.

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