Produzir inovação e defender setores estratégicos para o desenvolvimento nacional

Senge Paraná
29.ABR.2015

O país sofre uma carência muito grande de investimentos em inovação tecnológico e produção de capital científico que promovam o desenvolvimento social. A capacidade de uma nação em ser soberana está estritamente ligada às suas opções em termos de defesa da sua engenharia e de fomentar a criação de conhecimento, é o que defendeu o superintendente de engenharia da Itaipu Binacional, Jorge Habib Hanna El Khouri, em palestra para cerca de 400 estudantes de engenharia nesta terça-feira (28), no segundo dia da Semana do Jovem Engenheiro, promovida pelo Senge-PR e Senge Jovem em Foz do Iguaçu.

De acordo com Habib, não há inovação sem o reconhecimento da importância do engenheiro para a sociedade. Não à toa, praticamente todos os indicadores utilizados para mensurar a capacidade de desenvolvimento tecnológico nacional inclui o número de engenheiros formados ou em formação como critério fundamental para análises. No entanto, o uso desse contingente e a competência em produzir e ser modelo de conhecimento tecnológico em termos de engenharia é antes uma opção nacional que individual.

Superintendente de engenharia da Itaipu Binacional, Jorge Habib Hanna El Khouri
Superintendente de engenharia da Itaipu Binacional, Jorge Habib Hanna El Khouri

“Os níveis de conhecimento passa por estágios que vão desde a operação da tecnologia até a produção de inovação e ciência, e é uma opção de país decidir o que ele quer em termos de conhecimento, se ele quer apenas operar a tecnologia, ou quer ter capacidade de manutenção da tecnologia ou produzir novos conceitos tecnológicos. Um exemplo de opção de país em nível de conhecimento é o do Brasil com relação ao setor automobilístico nos anos 1950, em que escolheu apenas montagem e operação da tecnologia, ao contrário da Coreia, que nos 1970 optou por percorrer todo o trecho do conhecimento e produzir e exportar inovações para o setor”.

Se o país se encontra, salvo exceções, em um vácuo em termos de inovação, de acordo com Habib, isso se deve a essa falta de o país se posicionar enquanto uma nação produtora de conhecimento e ao domínio de setores estratégicos tecnológicos por empresas multinacionais, que mantém em seus países sedes o núcleo de criação e inovação.

“A maioria dos setores produtivos são dominados por empresas multinacionais em que as áreas de inovação, de pesquisa e desenvolvimento estão localizados nas sedes, em outros países. O que temos é a importação desse conhecimento tecnológico em detrimento ao fomento da engenharia nacional. Ficamos com os estágios menores naquela escala de níveis de conhecimento”.

De acordo com o engenheiro, para reverter esse quadro é preciso fomentar a capacidade de criação dos engenheiros, além de formar mais profissionais e propor projetos que incentivem a pesquisa, o desenvolvimento tecnológico e desenvolvam a capacidade criativa da engenharia jovem. Como exemplo, Habib apontou as ações do Parque Tecnológico da Itaipu, que propõe um ambiente de incubação e inovação tecnológica junto às instituições de ensino, como a Unioeste e a Unila, cujos campus de engenharia são instalados dentro do espaço da empresa.

“É preciso criar ambientes que busquem conectar a universidade a espaços de inovação de empresarial, para aumentar a competitividade da engenharia no mercado internacional, para que tenhamos também o conhecimento tecnológico como algo desejável lá fora”.

Se é preciso para o desenvolvimento do País o incentivo à inovação e formação de um capital intelectual tecnológico brasileiro, defender o uso racional e a detenção nacional dos recursos naturais fundamentais ao bem-estar social e a manutenção de setores estratégicos sob administração do governo e do povo é extremamente importante para a soberania nacional, alertou o presidente do Senge-PR e, palestra sobre a atuação do sindicatos nas lutas em defesa da sociedade e do patrimônio público.

“Temos setores extremamente estratégicos na engenharia para a soberania nacional, como a energética, tanto com o setor elétrico, com empresas como a Copel e Itaipu, quanto com o petrolífero, com a Petrobras. São setores fundamentais para o crescimento do país, responsáveis por uma parcela significativa do mercado de trabalho da área de engenharia e e grandes investidores de capital intelectual tecnológico brasileiro. Só para se ter uma ideia, os engenheiros da Petrobras desenvolveram tecnologias de exploração em águas profundas cuja engenharia envolvida no processo é invejada por vários países. E é um conhecimento que é nacional e extremamente importante para a defesa da soberania”.

Carlos Roberto Bittencourt, presidente do Senge-PR.
Carlos Roberto Bittencourt, presidente do Senge-PR.

Pela história de participação das empresas estatais no desenvolvimento nacional como principais investidoras e sustentadoras do crescimento econômico do país, Bittencourt alerta para a necessidade de defender a manutenção dessas instituições como patrimônio público e de ficarmos atentos às estratégias do capital privado sobretudo estrangeiro cujo interesse é se apropriar dessas empresas e da tecnologia construídas com investimento do povo brasileiro.

“Como uma entidade comprometida com a soberania nacional e com a defesa da engenharia e do capital tecnológico do país, o Senge, juntamente com a Fisenge, mantém posição firme quanto a defesa da manutenção dos setores estratégicos da sociedade nas mãos da sociedade. Temos um histórico de ações que demonstram isso, como em 2001, quando nos posicionamos contra a tentativa de privatização da Copel, e atuamos na liderança de um movimento em defesa de um dos principais patrimônios públicos do Paraná, que contou com a participação de mais de 400 entidades sindicais e movimentos sociais do estado”.

A preocupação com o futuro dos recursos hídricos, a defesa da água e energia enquanto bens precípuos à dignidade humana e não como mercadorias, a soberania alimentar e a defesa do uso social da terra, de acordo com Bittecourt, integra uma série de bandeiras de ação do Senge-PR, manifestadas em atos públicos, ações de pressão nas esferas políticas nacionais e estaduais, campanhas informativas e de mobilização da sociedade, além de um intenso trabalho de conscientização e manifestando a opinião das entidade ante a sociedade e aos profissionais de engenharia, com publicações como a Revista Diferencial e a Revista da Fisenge.

Neste terceiro dia (29) da maratona de palestras e debates da Semana do Jovem Engenheiros serão realizadas mesas temáticas de engenharia elétrica, civil e mecânica. Confira a programação do evento, que encerra as atividades na próxima quinta-feira (30) em www.jovemengenheiro.com

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