Sem ganho real, acordo não fecha, avisam sindicatos da Sanepar

Entidades questionam tentativa de dividir a categoria com proposta fracionada

Diretor-presidente da Sanepar, Claudio Stabile. Fotos:Ari Dias/AEN
Comunicação
26.MAR.2024

Manoel Ramires/Senge-PR

A rejeição à proposta da Comissão de Negociação da Sanepar foi unânime entre os sindicatos. Apresentada no último dia 15, mais uma vez a minuta trazia reajustes diferenciados por renda, fazendo com que muitos profissionais ficassem sem ganho real. A tentativa de dividir a categoria acabou por unir ainda mais a base. Principalmente porque a Sanepar faturou R$ 1,5 bilhão no ano passado. O valor representa crescimento de 30,6% e a empresa pode pagar um pouco mais de R$ 452 milhões aos acionistas.

O Senge-PR encaminhou ofício à Comissão ainda na segunda-feira (25) comunicando da rejeição da proposta, anexando a ata com a votação e ainda reforçando a necessidade de seguir negociando. A categoria da engenharia é uma das mais prejudicadas pela proposta, uma vez que ficaria apenas com o INPC e sem ganho real.

No ofício que enviou, em consonância com os sindicatos da base da Sanepar, o Senge-PR pede que avalie uma contraproposta. “Aumento salarial (ganho real) – propomos a recomposição salarial com base no INPC de 3,86%, além de um aumento linear correspondente a R$150,00 (cento e cinquenta reais) na folha no Adicional ACT 2018 (Código 6154), sendo o valor atualizado para R$308,61, o qual visa proporcionar um ganho real aos trabalhadores de todas as categorias e reduzir as diferenças salariais dentro da Companhia”.

A posição é compartilhada por sindicatos. De acordo com o presidente do SIQUIM-PR José Carlos dos Santos, “é importante avaliarmos com muita cautela a proposta da empresa para verificar o que é melhor para os profissionais. É importante que a empresa reconheça e valorize os trabalhadores por todo o esforço e lucro que tem proporcionado à empresa”, diz.

Ganho real e divisão dos lucros

Dois cenários pesam a favor de uma proposta igual e que valorize os trabalhadores da Sanepar. São eles a melhoria econômica do país com negociações trazendo ganhos reais e o maior lucro da Sanepar que pretende distribuir mais dividendos para o mercado financeiro.

De acordo com o Boletim “De Olho nas Negociações” do DIEESE, em fevereiro de 2024, “pelo terceiro mês seguido, reajustes salariais acima da inflação são observados em mais de 80% dos casos analisados pelo DIEESE. Na data-base fevereiro, 88% das 117 negociações inseridas no Mediador até 5 de março resultaram em ganhos acima do INPC-IBGE (Índice Nacional de Preços ao Consumidor, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), e 9,4%, na recomposição das perdas acumuladas”. As perdas significam que prejuízos em negociações passadas foram levadas em consideração ao fechar um acordo atualmente. 

Dados compilados pelo DIEESE Paraná mostram que desde 1994 (30 anos), os funcionários da Sanepar tiveram apenas sete reajustes com ganho real. O último aconteceu na negociação de 2018, quando o reajuste foi de 2,00% e o INPC de 1,81% aumento real de 0,19%.

Com relação ao lucro, a previsão da empresa é aumentar o valor concedido ao mercado financeiro. Em 27 de junho de 2023, por decisão da 59ª Assembleia Geral Ordinária (AGO), a Companhia efetuou o pagamento de R$ 432,6 milhões, relativos aos proventos do 1º e do 2º semestre de 2022. Com relação ao exercício de 2023, a Administração propôs a distribuição de R$ 452,4 milhões, correspondentes a 31,7% do Lucro Líquido Ajustado do período.

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