Transporte de Curitiba dificulta acesso a empregos para pessoas de baixa renda e negras

Engenheira pesquisadora mostrou como pobres levam mais tempo em deslocamentos e mobilidade na capital paranaense

Dados revelam que gestão municipal investe 20 vezes mais em moradores do centro do que da periferia. Fotos: Carlos Costa/CMC

Manoel Ramires/Senge-PR

O debate sobre mobilidade urbana deve ser central na eleição de Curitiba e de muitos municípios. Tarifa Zero, ônibus elétricos, custo por passageiro, integração no transporte são os focos principais. Mas não só isso. O Seminário Mobilidade Urbana em Curitiba realizado na Câmara Municipal apontou problemas e soluções para o assunto. Principalmente com relação a discriminação de pessoas de baixa renda e negra. O recorte social revela que essas pessoas têm mais dificuldade de conseguir e se deslocar ao emprego. O evento organizado pela Federação Brasil da Esperança contou com a participação de Tainá Bittencourt – Doutora em engenharia de transporte, Mariana Auler – Advogada e doutora em políticas públicas, e Yasmim Reck- Mestre em Planejamento Urbano.

A vereadora Professora Josete, uma das proponentes da discussão, abordou o Sistema Único de Mobilidade Urbana. Segundo ela, a ideia é de que “nós tenhamos um sistema nacional para que nós possamos ter uma ação conjunta de estados e municípios para realmente avançar nessa pauta. Então o SUM propõe o que a gente chama de Triplo Zero: Zero tarifa, Zero emissão de poluentes e Zero mortes no trânsito”, enumera a vereadora. 

Uma das palestrantes foi Tainá Bittencourt, que é Doutora em engenharia de transporte pela Universidade de São Paulo e engenheira civil pela Universidade Federal do Paraná, com período sanduíche no Instituto Nacional de Ciências Aplicadas de Lyon, na França. É pesquisadora do Centro de Estudos da Metrópole (CEM) e foi do Senge Jovem Paraná. De acordo com a especialista, o maior paradoxo da mobilidade urbana de Curitiba, é que ela é reconhecida aí como uma referência em mobilidade urbana no país, tem muitos méritos, e conseguiu produzir muitas coisas inovadoras e coisas que são importantes e de fato referência para outros municípios.

Evento discutiu a dificuldade de mobilidade na capital paranaense. Foto: Carlos Costa/CMC

“Mas, ao mesmo tempo, Curitiba tem uma uma divisão modal que é predominantemente composta por viagens por automóvel, indo na contramão do que se preconiza enquanto uma mobilidade urbana sustentável, que de fato é referência para o mundo”, sublinha a engenheira, que complementa: “De acordo com a pesquisa origem/destino, quase 46% dos deslocamentos na cidade são feitos por automóveis e suspeito que esses números aumentam devido a redução do uso do transporte público”.

Segundo Tainá, as pessoas têm sido afastadas do transporte por causa do tempo de espera e viagem, o custo das passagens ser caro, e a lotação. A especialista pesquisa o deslocamento fazendo o recorte por renda e raça.

 “Quando a gente olha para classe social e raça, em Curitiba, se percebe que a classe alta e branca, tem uma facilidade de acessar oportunidade de emprego três vezes maior do que a população de classe baixa de menor renda e negra. Isso não é uma coincidência que as pessoas da periferia demoram três vezes mais para acessar o mesmo mesmo número de oportunidades ou que as pessoas de classe baixa/negra tem uma dificuldade três vezes maior para acessar o mesmo número de oportunidades que classes altas brancas. Justamente porque quando a gente olha para o mapa da cidade, os brancos e de alta renda moram próximos onde estão os melhores empregos”, compara. 

Curitiba investe mais em moradores das faixas centrais

Para piorar, essas regiões são as que possuem as piores condições de calçadas e serviços públicos. (Veja aqui a declaração). E isso é uma escolha da gestão pública. Em 12 anos, o Caximba, por exemplo, recebeu R$ 20 reais em investimentos públicos. Comparado ao Batel, esse bairro recebeu dez vezes mais (R$ 205) que os habitantes do extremo da cidade.

Para Tainá, o vencimento da licitação é uma oportunidade para reduzir as desigualdades promovidas pelo transporte público. “Vai ter uma nova concessão do transporte público coletivo. Então queria trazer alguns elementos muito pragmáticos: é fundamental a gente ter em mente quando a gente vai discutir essa nova licitação pensando aí em termos e concretos. O que que a gente pode fazer é dar sementinha das inovações. Tornar o transporte público menos caro no horizonte de Tarifa Zero e mais e de mais qualidade para para todo mundo”, conclui. 

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