A população negra quer se ver em outros espaços

Segundo DIEESE, é persistente a desigualdade entre negros e não negros no mercado de trabalho

Vereadora é autora de projeto sobre criação de cotas em concursos públicos de Curitiba. Foto: Rodrigo Fonseca/CMC
Comunicação
20.NOV.2022

Carol Dartora (*)

Neste 20 de novembro é importante denunciar que toda negação de direitos parte de uma ideia de superioridade, de que existem pessoas merecedoras e detentoras de direitos humanos e outras não. É uma ideia de hierarquização de uma coisa que não tem como hierarquizar, que é a comunidade humana.

E essa hierarquização é feita com base em preconceito étnico, preconceito racial e discminação de gênero e econômica. Pensando em um país como o nosso, ainda existe um entendimento de que a branquitude é mais humana do que aquilo que é visto como o outro na nossa sociedade. E esse outro tem raça, tem cor. Não há como hierarquizar a comunidade humana.

Para a população negra, historicamente marginalizada, excluída dos espaços em decorrência do racismo, da violência, do racismo estrutural e do racismo institucional, essa população cresceu, gerações e gerações, sem entender sua própria identidade, sem se reconhecer, sem se ver em espaços tão importantes. É como se a população negra brasileira tivesse uma ferida na alma, um vazio a ser preenchido. E a representatividade preenche esse vazio.

Diante desse contexto de tanta exclusão, isso faz com que a nossa representação geralmente esteja em espaços dos quais a gente já está cansado. A gente já está super representado na miséria, na fome, no desemprego, e a população negra quer se ver de outras formas. A população negra quer se ver em outros espaços. Isso é muito importante para, inclusive, que a gente tenha capacidade de desejar e de sonhar, algo que é muito caro para nós.

Nós queremos ser representados de outras formas com as quais a gente ainda não se viu, como por exemplo, felizes, com acesso e inclusão efetivamente à nossa sociedade. A gente ainda tem muito por dizer e a nossa felicidade precisa ser filmada. A nossa felicidade ainda não foi explorada e mostrada.

Outra questão é ocupar o espaço da política institucional, para que as nossas demandas e as nossas pautas se tornem soluções e alternativas políticas para essa sociedade que é tão desigual, principalmente para nós mulheres negras.

Portanto, o 20 de Novembro é importante para lembrar que a população negra é detentora de direitos básicos e fundamentais. Nesse sentido, é urgente que possamos avançar muito para além da política de cotas no próximo período. Precisamos também promover reeducação social e garantir a efetividade de políticas públicas afirmativas e de reparação em todos os setores da nossa sociedade.

* Carol Dartora é a primeira mulher negra eleita vereadora de Curitiba, primeira mulher negra eleita deputada federal do Paraná. Professora de História, mestra em Educação, doutoranda em Tecnologia e Sociedade.

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