Curva de contaminação explode, mas Copel mantém trabalho presencial

Empresa ignora recomendação das autoridades para retorno ao trabalho remoto

Entrada da Copel KM3. Foto: Divulgação
Comunicação
24.JAN.2022

AS DECISÕES NÃO BATEM. AS EXPLICAÇÕES NÃO SE SUSTENTAM. É o que se pode concluir com a insistência da Copel em manter os funcionários em trabalho presencial, mesmo com o surto de Covid-19 que ocorre no país e dentro da empresa.  A companhia diz que os copelianos se sentem mais seguros no ambiente interno, ignorando queixas feitas ao Canal de Denúncias que falam de medo pavor entre os funcionários. A companhia diz se basear nos protocolos das autoridades, mas não liga para recomendação da Prefeitura de Curitiba de adoção do teletrabalho nesta fase da pandemia, nem para os alertas da Secretaria de Saúde. A Copel não apresenta qual é a sua meta para interditar o presencial, mas convive “tranquilamente” com aumento de quase 1000% nos casos. O que precisa acontecer para que a empresa entenda que cuidar das pessoas é cuidar dos negócios?

A Copel adotou o trabalho remoto de abril de 2020 a dezembro de 2021. Neste período, segundo o Boletim Semanal Ações Copel Covid-19, a empresa teve no máximo 48 casos ativos simultaneamente. O pico ocorreu entre maio e junho de 2021. Quantidade superada em janeiro de 2022 quando, “coincidentemente”, o trabalho presencial foi retomado na empresa. A escalada semanal foi de 58, 139, 240 casos ativos (veja gráfico abaixo). Atualmente a Copel tem 320 casos em investigação, aproximadamente 5% dos empregados. Dos 95 casos confirmados na última semana, ninguém precisou ser internado. Dados que por si deveriam fazer com que a empresa retornasse imediatamente ao trabalho remoto.

Empresa tem surto de casos no retorno presencial e após festas de fim de ano

TELETRABALHO É MAIS SEGURO

A Copel foi questionada sobre o retorno ao trabalho remoto e a suspensão do presencial tendo em vista que as contaminações pela variante ômicron crescem e ainda não se atingiu o pico. A preocupação é de que o período de calor até o carnaval, quando as pessoas podem se aglomerar mais, acabe facilitando a circulação do vírus. Possibilidade confirmada pela Secretaria de Saúde do Paraná, a quem a Copel diz seguir, afinal, o Governo do Estado é seu acionista majoritário.

“A presença e a circulação acelerada da Ômicron no Paraná é algo que já estávamos esperando desde a confirmação da variante no Brasil. Nossa média móvel de casos em janeiro é muito maior do que a de dezembro, isso mostra claramente a predominância da Ômicron, ultrapassando a Delta no Estado”, afirmou o secretário de Estado da Saúde, Beto Preto. A Secretaria de Estado da Saúde divulgou neste domingo (23) mais 11.811 casos confirmados e seis mortes em decorrência da infecção causada pelo novo coronavírus.

Para a empresa, por outro lado, o retorno ao trabalho remoto continua ‘apenas sendo avaliado’. A Copel ainda argumenta que as pessoas que estão no trabalho presencial se sentem confortáveis no ambiente interno e que as contaminações estão ocorrendo no ambiente externo. Segundo a Copel, a avaliação é feita semanalmente e a suspensão do trabalho presencial não está descartada.

Segundo a Copel, estão ocorrendo inspeções e vistorias nos ambientes de trabalho e ocorrendo a orientação aos empregados. 

“Neste momento, a percepção é que não exista recomendação das autoridades de saúde ou bandeira sinalizando para o retorno do remoto. Nosso protocolo é rigoroso e conservador neste sentido. Uma vez que haja a suspeita, o profissional é afastado imediatamente”, diz o representante da empresa.

Questionada sobre periodicidade e dosimetria das sanções, não houve resposta satisfatória. O que o Coletivo pode observar nas visitas periódicas que têm feito é que a empresa não promove um cerco efetivo à contaminação. Não faz blitz nos locais de trabalho, não realiza testes em massa preventivos, não pune quem fere os protocolos. A sensação é de um “apagão no combate”.

SE RESPONDESSE OS OFÍCIOS…

A empresa ainda afirmou que algumas denúncias não puderam ser averiguadas porque não haviam informações suficientes como onde ocorreu a irregularidade, dia e horário. Isso só ocorre porque a empresa não respondia aos ofícios enviados pelo coletivo. No último ofício protocolado em 20 de janeiro, a Copel teve acesso a informações como “Na Copel – polo KM3 – bloco C observamos que não estão sendo cumpridas as recomendações médicas para evitar a disseminação da Covid19. Vários funcionários, inclusive alguns gerentes e supervisores, trabalham sem máscaras e só colocam as máscaras quando levantam dos seus

postos”. A denúncia que está protocolada com o número 18.546.862-3 detalha quando isso aconteceu, quantos empregados foram expostos, qual a cidade e até o departamento. Portanto, basta a Copel averiguar.

ARGUMENTOS NÃO SE SUSTENTAM

Contrariando o que diz a Copel, o Decreto 60/2022 da Prefeitura de Curitiba recomenda a adoção de teletrabalho para todos os empregados que tiverem a possibilidade de exercer o trabalho em casa. “Os estabelecimentos devem priorizar a substituição do regime de trabalho presencial para o teletrabalho, trabalho remoto ou outro tipo de trabalho à distância, quando possível, de modo a reduzir o risco de contaminação pela covid ou Influenza no ambiente de trabalho”, diz o Decreto

E é bom lembrar que o KM3, onde há surto de Covid, fica em Curitiba. Logo, porque a empresa não quer adotar a recomendação local? “A Copel poderia voltar a ser protagonista como era até novembro do ano passado. O que vemos neste ano é a empresa colando sua curva na curva do estado em um momento de surto no estado e no país”, associa Leandro Grassmann.

AS DECISÕES NÃO BATEM

À Copel foi questionada quantos funcionários precisam ser infectados no presencial para que a empresa adote o teletrabalho.  Segundo a Copel, não existe um teto de casos que levem a essa decisão de manutenção presencial ou retorno ao remoto. Dos 1624 casos confirmados ao longo da pandemia, 436 ocorreram apenas em 2022. Aproximadamente 1 a cada 4 casos ocorreram nas últimas 3 semanas.

Curva acelerada de casos no Paraná já fez estado aumentar quantidade de leites e alterar protocolos

O Coletivo Sindical ainda rebateu o argumento de que as pessoas estão confortáveis no ambiente da empresa. Muitos relatos mostram que os copelianos estão com medo, que sequer bebem água na empresa ou usam o banheiro. 

“Estamos desesperados. Pedimos, por favor, nos deixem viver, amamos nosso trabalho e queremos muito continuarmos trabalhando, mas em segurança como estávamos. É muito difícil ao término de cada turno não temos segurança de irmos para nosso lar porque estamos todos os dias com o terror em nossas mentes  sem saber se estamos contaminados ou não”

Via Canal de Denúncias

O Coletivo rebateu a informação de que o afastamento em caso de suspeita é imediato. Muitas pessoas fazem o teste e retornam ao trabalho antes da divulgação do resultado positivo ou negativo. “Observamos casos positivos e, mesmo assim, pessoas que tiveram contato não fizeram um teste preventivo. O que afirma a Copel não é o mesmo que chega ao Canal de Denúncias”. Neste ponto, a empresa entende que os testes devem ser feitos apenas em caso de sintomas e quando houver contato direto com quem está infectado.

Aproximadamente 1 a cada 4 casos ocorreram nas últimas 3 semanas

AMBIENTE DE CONTAMINAÇÃO

Ainda em relação à versão de que “dentro da Copel é mais seguro”. Os trabalhadores apontam os riscos no deslocamento até o trabalho, principalmente por causa do uso do transporte coletivo. Outro ponto é a lotação dos leitos de enfermaria e UTI no estado. “As pessoas estão com medo e os funcionários da Copel não pensam diferente”, comenta Jonas Braz.

A Secretaria de Saúde do Paraná reativou 500 leitos para tratar Covid-19 e H3N2 a partir do dia 21 de janeiro. Segundo o Boletim Epidemiológico, o estado está com 64% dos leitos de UTI ocupados. Na região norte, 81% dos leitos de enfermaria estão com a capacidade preenchida. “Desde o início de 2022 foram registrados 167.278 novos casos pela Covid-19. No final do ano passado, o número não ultrapassou 9,4 mil. A última vez que o Paraná teve registro de mais de 100 mil pessoas infectadas pelo vírus SARS-CoV-2 foi em junho do ano passado, contabilizando 162.523 casos”, diz o estado, confirmando a gravidade do momento.

CANAL DE DENÚNCIAS

De acordo com a Copel, pelo menos 30 denúncias foram feitas ao “Caça ao Risco”. Reclamações estas muito semelhantes às feitas no Canal de Denúncias Sindical e que serão incorporadas ao ofício encaminhado pelos sindicatos e na ação judicial protocolada no TRT. O canal do Coletiva acumula cerca de 60 registros. As queixas são, principalmente, a falta de uso de máscara de gerentes e de terceirizados.

“É inaceitável que gerentes não utilizem máscara. Eles devem ser exemplo para seus funcionários e são os primeiros a desrespeitar os protocolos. A postura da empresa não deve ser esperar o problema, mas prevenir reforçando os protocolos”, alerta Grassmann. Os sindicatos também cobram que os terceirizados se adequem aos protocolos da empresa, pois convivem no mesmo espaço e devem, por força de contrato, obedecer a todos os normativos da Companhia.

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