Escandaloso! Remuneração de diretores da Copel salta 429% desde a privatização

Proposta foi deliberada durante Assembleia e fala em se adequar a concorrência do mercado

Foto: Jonathan Campos/AEN
Comunicação
23.ABR.2024

Manoel Ramires/Senge-PR

Você já sabe: vai pagar essa conta. Lembra do governador Ratinho Junior vetando o aumento e os bônus da diretoria e do Conselho Fiscal da Copel? Pois bem, a medida só era possível porque a empresa era pública. Agora, privatizada, a proposta apresentada durante a AGO salta a remuneração total de R$ 11, 3milhões em 2023 para R$ 60,1 milhões em 2024.  Dentro desse valor, o presidente da Copel, Daniel Pimentel, que foi indicado pelo governador, pode chegar a receber R$ 382 mil mensais. Bolada bem maior do que os  mais de R$ 72 mil por mês atuais. Já os diretores da Companhia podem receber até R$ 324 mil. Calculando apenas a Diretoria, por exemplo, dá uma média de R$ 71,6 mil de salário + R$58,4 mil de bônus e R$ 314,3 mil de ações!

Os dados estão na “Proposta da administração e manual para participação em Assembleia Geral de Acionistas” apresentada na 210ª Assembleia Geral Extraordinária e 69ª Assembleia Geral Ordinária”. De acordo com o texto, o salto milionário ocorre porque “percebeu-se que as práticas de remuneração dos administradores que estava em vigor no momento da privatização estavam desalinhadas em relação às tendências do mercado na nova estrutura que a Companhia passou a ter”.

Para a Copel, que adotou um modelo de demissão voluntária dos funcionários (PDV) para enxugar gastos, os valores pagos aos diretores, “não se mostravam adequadas aos desafios da Companhia na gestão do seu capital humano, que demanda sólidas estratégias de incentivos, atração e retenção de talentos de alto desempenho, bem como de promover a criação de valor sustentável e de longo prazo para a Copel, seus acionistas e demais partes interessadas”.

Ainda em 2023, na 209ª Assembleia Geral Extraordinária, iniciava-se o processo de enriquecer os diretores que defendem a venda do patrimônio paranaense. Segundo a ata da AGE, é necessário fazer “a suplementação da remuneração dos Administradores, Conselheiros Fiscais e membros de Comitês Estatutários para o exercício de 2023, com o consequente aumento em R$5.691.451,84 (cinco milhões, seiscentos e noventa e um mil, quatrocentos e cinquenta e um reais e oitenta e quatro centavos) ao limite máximo de remuneração para a administração previsto para o exercício de 2023, passando de R$11.386.806,44 (onze milhões, trezentos e oitenta e seis mil, oitocentos e seis reais e quarenta e quatro centavos), conforme aprovado na 68ª Assembleia Geral Ordinária realizada em 28.04.2023, para R$17.078.258,27 (dezessete milhões, setenta e oito mil, duzentos e cinquenta e oito reais e vinte e sete centavos)”.

E agora, na 69ª AGO, ocorrida em 22 de abril, o aumento estratosférico foi aprovado. “Aprovar, conforme votos registrados no mapa de votação constante do Anexo I, a fixação da remuneração dos Administradores, Conselheiros Fiscais e membros de Comitês Estatutários para o exercício de 2024, com limite global anual de até R$60.151.452,27 (sessenta milhões, cento e cinquenta e um mil, quatrocentos e cinquenta e dois reais e vinte e sete centavos), a ser individualizada pelo Conselho de Administração”. Um aumento de 252% em relação à remuneração do mês anterior. Desde a privatização, as verbas salariais da alta gestão acumulam incríveis 429% de aumento.

Gerando lucros, enriquecendo poucos 

Para a nova Copel, “o novo modelo de remuneração dos administradores e dos Conselhos tem por objetivos: alinhar o interesse dos executivos e posições-chave aos objetivos estratégicos de longo prazo da Copel, promovendo uma conexão direta entre a estratégia de remuneração e o sucesso sustentável da Companhia; Vincular uma parcela significativa da remuneração à geração de valor para a Companhia; estimular uma cultura organizacional de meritocracia e alta performance na Companhia, reconhecendo resultados excepcionais e incentivando a excelência contínua; e reter e atrair talentos, oferecendo um pacote de remuneração competitivo, alinhado à estratégia e ao propósito da Copel, que reconhece, recompensa e incentiva a criação de valor para a Companhia”.

Essa disparidade já era esperada e alertada por especialistas. Em 2022, antes da privatização da Copel, o presidente do Senge-PR, engenheiro eletricista Leandro Grassmann, já dizia que a empresa seria norteada para gerar lucros e dividendos.

“O recente pagamento de bônus aos Diretores da Copel abriu a ‘Caixa de Pandora’ e permitiu que fossem expostas as injustificáveis razões pelas quais a Diretoria da Companhia se norteia. Quanto menos se paga aos empregados, mais a Diretoria ganha. Quanto mais lucro provindos da redução de custos com funcionários, mais a Diretoria ganha”, disse em 2022, há exatamente dois anos.

Aumento provoca reação na Assembleia Legislativa

Durante sessão plenária na Assembleia Legislativa do Paraná, o deputado estadual Arilson Chiorato se escandalizou com os números e trouxe uma denúncia. Ele menciona a contratação de Diogo Mac Cord, responsável por coordenar a privatização da Copel.

“E o que a Copel tem a ver com isso? Tudo! Segundo palavras da própria EY, a consultoria foi responsável por coordenar a estruturação da operação de transformação da Copel em Corporação. Com direito a publicação no LinkedIn parabenizando a Copel e o Estado do Paraná. E Diogo estava lá! Diogo conduziu a venda da Eletrobrás e, posteriormente, fez o mesmo com a Copel. Qual o interesse dele na Copel privada? Que assessoramento ele está fazendo por lá?  Seria exagero afirmar que a Copel fará com seus empregados o mesmo que está sendo feito com a Eletrobrás? Corte de direitos e dos próprios salários”, alerta o deputado.

Voltar a Notícias