[III Encontro do Senge Jovem Paraná] A conjuntura atual e os desafios da nova geração de engenheiros no Brasil

Senge Paraná
26.JUL.2018

Como parte da programação de palestras do III Encontro Estadual do Senge Jovem Paraná, realizado em Faxinal do Céu, na manhã de sábado, 21 de julho, o engenheiro civil, professor do Departamento de Transportes da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e diretor do Senge-PR, José Ricardo Vargas de Faria, proferiu a palestra magna “A Conjuntura Global, angústias e anseios da nova geração de engenheiros no Brasil”. Em sua fala, Faria explanou sobre as relações classistas, as relações de poder e a estrutura do capitalismo no Brasil, e expôs o histórico de políticas econômicas dos governos Lula e Dilma, que promoveram a conciliação de classes em um primeiro momento, mas, quando este processo foi interrompido, ocasionaram o golpe de 2016.

Para facilitar a compreensão da influência que a luta de classes e as relações de poder tiveram na construção da atual conjuntura brasileira, Faria resgatou o processo de industrialização do Brasil e de outros países que viveram o capitalismo tardio, e o estabelecimento das estruturas deste capitalismo, baseado na superexploração das classes trabalhadoras.

Ele lembrou que o capitalismo é um processo de valorização e acumulação de riquezas, e que estados capitalistas viabilizam as condições para a acumulação, como fizeram os governos Lula e Dilma (primeiro mandato). As políticas sociais e de investimentos em desenvolvimento e infraestrutura não promoveram apenas avanços sociais, mas econômicos. “Quanto mais o estado gasta, mais ele ganha”, esclareceu, lembrando que os três mandatos citados não tiveram déficit fiscal.

Então, veio 2015 e a mudança da política econômica, com desoneração fiscal, queda na taxa de juros e cortes de investimentos, influenciada pelo cenário nacional e pelos efeitos internacionais retardados das crises de 2008 e de 2011. Este foi o primeiro ano desde 2003 a registrar déficit fiscal. A mudança provocou uma ruptura no processo de conciliação de classes, já que as condições para acumulação de capital foram interrompidas. Aí aparece o movimento de desestruturação e substituição do governo Dilma. “Eu não vou pagar o pato. Mas alguém vai”, lembrou Faria.

E o pato foi pago com o teto dos gastos públicos, a reforma trabalhista, a redução de renda e a precarização das condições de vida das classes mais baixas. A redução da capacidade do estado de investir fez com que as classes mais altas retornassem para o antigo método de acumulação de riquezas: a superexploração. “Os ricos não perdem em momentos de crise. Quanto maior a crise, maior a concentração de riquezas. Não é preciso crescer, é preciso acumular”, destacou.

A engenharia na conjuntura atual

Segundo Faria, a nova geração de engenheiros começa a sentir as consequências deste retrocesso com a onda de privatizações, a deterioração das condições de trabalho, a terceirização, e o corte de investimentos em novas tecnologias: “a engenharia é uma das primeiras áreas afetadas, todo desenvolvimento passa pela engenharia”.

Ele ainda destacou a pressão que entidades regulamentadoras brasileiras sofrem para autorizarem a atuação de profissionais estrangeiros no país, que vêm junto com companhias exteriores e assumem os meios de produção e a tecnologia nacional, mas ignoram o talento local. Com a geopolítica nacional e internacional cada vez mais influenciada por movimentos neoliberais, e a globalização da burguesia, é necessário fortalecer espaços de debate e dialogar com o mundo, buscando aliados em uma visão internacionalista.

Faria também salienta que o modelo universitário técnico e a educação produtivista, voltada para o mercado de trabalho, pode prejudicar a formação crítica do estudante, que acaba sem os elementos necessários para identificar a produção ideológica e as narrativas criadas pela burguesia. “A produção ideológica faz parte das disputas e relações de poder, e a ideologia dominante é a ideologia da classe dominante”, conclui.

Texto e fotos: Luciana Santos, jornalista do Senge-PR

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III Encontro do Senge Jovem Paraná debate o papel da nova geração de engenheiros para a mudança do Brasil

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