Inaugurada placa em homenagem a Enedina Marques, primeira engenheira negra do País e formada na UFPR

Senge Paraná
20.NOV.2018

Enedina

Na foto, Paulo Vinícius Baptista, da Sipad; Regina Pombo Rodriguez, vice-diretora do Setor de Tecnologia; o reitor Ricardo Marcelo Fonseca; a vice-reitora Graciela de Muniz; a estudante Fernanda Lopes, de Engenharia Civil; o diretor do setor, Horacio Tertuliano Filho; e a pró-reitora Maria Rita César, da PRAE. Ao lado, a placa em detalhe.

Formada pela UFPR em 1945, a primeira mulher negra a se formar em Engenharia no Brasil, Enedina Alves Marques, foi homenageada com uma placa instalada no prédio administrativo do Setor de Tecnologia, em Curitiba, nesta terça-feira (20/11), Dia Nacional da Consciência Negra. O descerramento da placa ocorreu durante uma solenidade com a presença do reitor, Ricardo Marcelo Fonseca, e do diretor do setor, Horacio Tertuliano Filho, além de pró-reitores, professores, alunos, representantes de associação de classe e familiares da homenageada. Como engenheira civil, Enedina Marques foi responsável por obras importantes no Paraná, entre elas o levantamento topográfico da Usina Hidrelétrica Capivari-Cachoeira.

A dedicação aos estudos e a coragem para romper barreiras foram duas características da história de Enedina Marques lembradas na fala de convidados. “A mensagem que gostaria de deixar é que Enedina vive nos estudantes que conseguem se formar contra todos os obstáculos sociais”, declarou o reitor Ricardo Marcelo. Filha de empregada doméstica, e doméstica ela mesma na adolescência, a engenheira persistiu nos estudos, geralmente em classes noturnas. Assim conseguiu terminar primeiro o magistério e, depois, a Faculdade de Engenharia do Paraná, onde se formou aos 32 anos.

O pioneirismo de Enedina, que inspira a presença de mulheres negras em profissões ligadas à tecnologia, foi abordado por estudantes de Engenharia com a manifestação de duas organizações estudantis: o Coletivo de Estudantes Enedina Alves Marques, que defende o feminismo negro; e o Núcleo de Pesquisa de Relações Raciais, Ciência e Tecnologia (Nupra), inaugurado neste ano no Politécnico para viabilizar pesquisas na área com viés racial.

“Por causa da força e da perseverança dessa mulher, que quebrou barreiras diariamente, é que nós estamos aqui”, disse Fernanda Lopes, estudante do 4.º ano de Engenharia Civil e integrante do coletivo.

Iniciativas

Durante a cerimônia, foram levantadas propostas para a manutenção e o fortalecimento das políticas de diversidade da UFPR — que, no caso das ações afirmativas de reserva de vagas, começaram em 2004, ainda antes da Lei de Cotas (n.º 12.711/12). Uma das sugestões, mencionada pelo professor Paulo Vinícius Baptista, da Superintendência de Inclusão, Políticas Afirmativas e Diversidade (Sipad), é a de que a universidade tenha seu Dia da Consciência Negra no calendário acadêmico, para que o dia 20 de novembro seja dedicado a ações de representatividade negra e conscientização contra o racismo.

A proposição já foi submetida ao Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe). Segundo Baptista, seria uma forma de compensar a ausência do feriado em Curitiba. A data é feriado em pelo menos 1.047 municípios brasileiros, de acordo com levantamento da Secretaria Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) — são 5.570 no total.

O professor Horacio Tertuliano Filho afirmou que será levada ao colegiado a proposta para que o auditório do setor — o segundo maior da UFPR — receba o nome de Enedina Alves Marques. A sugestão foi endossada pelo reitor, que afirmou que a gestão fará campanha pela aprovação da ideia.

Ricardo Marcelo também classificou o histórico das políticas pela diversidade da UFPR como “patrimônio”, consolidado na criação da Sipad em 2017. O reitor afirmou que a universidade resistirá a ameaças de revogação da Lei de Cotas. “Se acontecer a revogação da lei, nós vamos lastimar. Mas faremos uso da autonomia universitária para manter a política aqui na UFPR, para que pelo menos essa universidade continue a bandeira”, disse.

A solenidade contou, ainda, com a presença do cônsul do Senegal, Oziel Moura dos Santos; dos professores André Duarte, da Agência UFPR Internacional; Leandro Gosdorf, da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (Proec); Maria Rita César, da Pró-reitoria de Assistência Estudantil (Prae); Graciela de Muniz, vice-reitora; Vanessa Rasoto, da UTFPR; o presidente do Conselho Regional de Engenharia (Crea/PR), Ricardo Rocha; e José Rodolfo De Lacerda, presidente do Instituto de Engenharia do Paraná (IEP).

Biografia

Apesar de Enedina Marques ter seu nome registrado no Livro do Mérito do Sistema Confea/Crea desde 2006, e ter seu nome inscrito no Memorial à Mulher Pioneira do Paraná, sua história ainda é pouco abordada, segundo estudos recentes apontam. Ela cresceu na casa dos patrões da mãe, em Curitiba, e completou a educação básica com apoio dessa família. A mãe, Virgília, se desdobrou sozinha para sustentar os filhos depois de se separar do marido.

A cerimônia de formatura de Enedina, em dezembro de 1945, ocorreu sem a presença de familiares, no Palácio Avenida, no Centro de Curitiba. A engenheira se formou ao lado de 32 colegas homens, muitos dos quais passaram os anos de faculdade sem falar com ela, segundo depoimento de um antigo colega.

Atualmente, restam poucas pessoas da família de Enedina, entre elas a sobrinha, Lizete Marques, de 80 anos. A professora aposentada recorda-se da tia como uma mulher forte e inspiradora, mas não exatamente calorosa. “Ela não era dada a abraços, não era aquela coisa de titia, mas foi um exemplo para mim, porque na minha família poucos estudaram. Minha avó falava: ‘olha a sua tia, veja como ela estuda’”. Com o incentivo — que Enedina não teve em sua época –, Lizete se formou em Educação Física há 50 anos.

Recentemente, a biografia da engenheira foi tema de um trabalho de conclusão do curso de História – Memória e Imagem, elaborado pelo aluno Jorge Luiz Santana. Um artigo baseado na monografia pode ser lido neste link.

Texto: Superintendência de Comunicação Social da UFPR

Foto: Marcos Solivan/Sucom-UFPR

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